E. F. do
Sapucaí / Rede Sul Moneira / Rede Mineira de Viação
/ V. F. Centro-Oeste (1910-1978)
Bitola: métrica.
Acima, a estação de Barra do Piraí, da RMV,
em foto sem data, hoje demolida. ponto final do trem. Abaixo, a
de Soledade de Minas, em 2002, onde havia o entroncamento com a
linha Cruzeiro-Juréia (Fotos: Acervo Jorge A. Ferreira).
Acima, a estação de Santa Rita do Jacutinga, em 2002,
entroncamento com o ramal de Jacutinga, da EFCB, que seguia para
Valença, Vassouras e para a Linha Auxiliar., em 2002. (Foto
Ronan Soares). Abaixo, a estação de Conservatória,
no Estado do Rio, desativada em 1961 a até hoje no centro
da cidade (Foto Arquivo Friles).
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Acima, horário dos trens da linha da Barra, ainda inteira,
em 1957 (Guia Levi, janeiro de 1957).
Veja também:
Contato com o autor
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Nota: As informações contidas nesta
página foram coletadas em fontes diversas, mas principalmente
por entrevistas e relatórios de pessoas que viveram a época.
Portanto é possível que existam informações
contraditórias e mesmo errôneas, porém muitas
vezes a verdade depende da época em que foi relatada. A ferrovia
em seus 150 anos de existência no Brasil se alterava constantemente,
o mesmo acontecendo com horários, composições
e trajetos (o autor).
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Este
trem de passageiros começou operando em 1891 próximo
a Soledade e em 1883 na região fluminense de Conservatória,
por duas ferrovias diferentes. A partir de 1910, estabelece-se o encontro
das linhas em Baependi e passam a correr trens entre Soledade, na
linha Cruzeiro-Juréia (antiga E. F. Minas & Rio) e Barra
do Piraí, na Central do Brasil. Os
trens correram até 1961, quando começou a desativação
dos trechos. Em 1961, foi suprimido o trecho Barra-Santa Rita
do Jacutinga, fazendo com que o trem passasse a ser um "trem
mineiro", pois esta última cidade fica na divisa mineira
com o Estado do Rio; em 1970, entre Bom Jardim e Santa Rita; em 1972,
entre Soledade e Aiuruoca; e até 1977 fechou o trecho remanescente
entre Aiuruoca e Bom Jardim, que mantinha o entroncamento nesta última
cidade com a linha-tronco da antiga RMV.
Túnel e viaduto de pedras, ambos próximos
à estação de Conservatória, construídos
em 1883 ainda pela E. F. Santa Izabel do Rio Preto. Até 1961
os trens passavam por aqui (Fotos Eliezer Magliano, 2003).
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Percurso:
Soledade de Minas. MG - Barra do Piraí, RJ.
Origem da linha: A chamada Linha da Barra foi uma fusão
de pelo menos três ferrovias que entraram em operação
entre 1883 e 1910 e
foram unidas somente neste último ano, quando tudo já
pertencia à Sapucaí. Portanto, somente a partir deste
anos podemos considerar trens entre Soledade e Barra do Piraí.
A linha cruzava com a linha Angra-Goaindira (linha-tronco da RMV)
em Rutilo e em Bom Jardim, onde um ramal ligava esta estação
à estação de Arantina, no tronco.
À esquerda, estação de Aiuruoca.
Àdireita, estação de Caxambu (Fotos Ralph M.
Giesbrecht - 2003).
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Comentários:
As lembranças dos trens da saudosa Linha da Barra são
colhidas entre o pessoal da região. "O trem do qual
me lembro que passava aqui (em Caxambu) era o Pau D'água, que
seguia de Soledade para Barra do Piraí, um misto, às
5:30 da manhã. Ele retornava à noite. Também
havia outro, que passava às 8 e fazia a linha Cruzeiro-Baependi
(ou seja, vinha pela Cruzeiro-Juréia e entrava pela linha até
Baependi, voltando dali - nota do autor). A RMV desativou a linha
porque ela dava prejuízo: ela mesmo atrasava por meses o pagamento
de seus empregados" (Sinval Mangia, 06/2003, ex-charreteiro
e hoje motorista de taxi em Caxambu).
ACIMA (À esquerda): Nos anos 1970, comboio
na linha da Barra estacionado em Bom Jardim de Minas (Acervo José
Agenor). (À direita): Desde 1961, não havia trens da
RMV em Barra do Piraí. A grita foi grande. A "linha da
Barra", que sobreviveu até os anos 1970 somente em Minas,
perdeu a razão de seu nome e prejudicou as comunidades em volta
das estações fluminenses por onde a linha passava. As
estradas demoraram para ser asfaltadas e o transporte, quando havia,
era péssimo, por ônibus e provavelmente caminhões
(Folha de S. Paulo, 22/4/1962).
A
seguir, o depoimento de quem morava ou visitava as fazendas da região
ao norte de Santa Rita do Jacutinga: "Os trens de passageiros,
extremamente limpos, sem o carvão da Central do Brasil, eram
compostos de vagões de carga, por onde descia o leite para
as duas cooperativas de laticínios de Santa Rita, um vagão
(carro) dividido ao meio, com o chefe do trem e a outra metade para
os correios e o funcionário responsável. O vagão
de passageiros, também, era composto de bancos de madeira,
2a classe e a outra, com poltrona estofadas com um muito especial
forro de palhinhas amarelas (o relator chama de "vagão"
os carros de passageiros, e da forma como descreve, está falando
de trens mistos - carga e passageiros - nota do autor). Havia o
"trem de cima" e o "trem de baixo", dependendo
de sua procedência. Houve época em que corria uma composição
de luxo, trem noturno que, pelos seus usuários, recebeu o nome
de 'almofadinha.' (...) A facilidade de comunicação
de trens, em Barra do Piraí, fazia com que a esparsa população
da Vargem do sobrado fosse assinante de jornais do Rio de Janeiro.
Assim sendo, diariamente três ou mais fazendeiros recebiam,
no dia, sem falha, o órgão dos Diários Associados,
o jornal. Era levado, da estação aos seus assinantes,
pelo menino leiteiro, isto é aquele que tangia os burros com
as latas de leite" (A Vargem do Sobrado, Célia
Mendonça da Fonseca).
Ao lado da estaçãozinha de madeira que
pegou fogo depois de desativada em Bom Jardim de Minas, outro trem
da linha da Barra aguarda seus passageiros. Eram os bons tempos (Autor
e época não identificados).
"Entre
1961 e 1964, toda a linha da Barra foi suprimida, voltando a operar
em 10/9/1964, com a passagem da primeira locomotiva a diesel pela
estação. Seis anos depois, o trecho Santa Rita-Bom Jardim
foi suprimido. Mais dois anos, e no final de 1972, o trecho entre
Soledade e Aiuruoca foi suprimido, para que os trabalhos da BR-267
pudessem prosseguir sem embaraços. Nessa época, o ramal
funcionava com trens em dias alternados: às 2as, 4as e 6as
os trens faziam o percurso Soledade-Bom Jardim enquanto às
3as, 5as e sábados, faziam-no no sentido inverso. Somente ficou
aberto o trecho Aiuruoca-Bom Jardim. A estação de Aiuruoca,
fechada por um bom tempo, volta a reabrir, com a chegada de um novo
agente, o Sr. Ary Ferreira Pinto Barra, matrícula 110403, que
foi designado especialmente de Formiga para essa reabertura em 02/08/1977,
e a reabertura dos serviços de telégrafo. Em 2/8/1977,
entretanto, o trecho foi fechado de vez, com a passagem da locomotiva
2920, que fechou a estação e levou o restante de material
que ainda existia ali" (Levantamento histórico de
Nair Ribeiro de Arantes, 2004). (Informações sobre o
novo agente: Carlos Cesar Barra, 2/2016).
"A minha avó sempre conta a cacetada que o povo de lá levou
foi quando erradicaram a linha Soledade-Barra do Piraí, pois os moradores
das cidades servidas por esta linha, que antes baldeavam em Rutilo
para pegar o trem para Barra Mansa, foram obrigados a deslocar-se
até Augusto Pestana (estação na linha Lavras-Barra Mansa
- nota do autor) para embarcar, ou seja, vinham de trem de Barra Mansa
até esta estação e, a partir daí, os passageiros que prosseguiriam
até Liberdade e cidades vizinhas tinham de pegar carona no carroceria
do caminhão de leite, jipe, carroça, ou algo similar para concluir
o trajeto" (Marco Giffoni, 09/2005).
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