Linha São
Francisco (1881-1911)
C. C. de F. Federaux
du L'Est Brésilien/V.
F. do Leste Brasileiro (VFFLB) (1911-75)
RFFSA (1975-89)
Bitola: métrica
ACIMA E ABAIXO: A monumental estação de São
Francisco, em Alagoinhas, com um prédio em arquitetura inglesa,
inaugurado em 1860 e hoje totalmente abandonado, em janeiro de 2005
(Fotos Ralph M. Giesbrecht).
ACIMA: mapa do Estado da Bahia com as linhas existentes em 1952.
Em vermelho, a linha Alagoinhas-Juazeiro (Acervo Ralph M. Giesbrecht).
ABAIXO: Horários dos trens de passageiros da linha, pelo
Guia Levi.
ACIMA:
Horários do Guia Levi em 1932 (Guia Levi, fevereiro de 1932).
ABAIXO: Horários do Guia Levi em 1957 (Guia Levi, dezembro
de 1957).
ACIMA: Horários do Guia Levi em 1976, quando os trens de
passageiros partiam de Salvador e iam diretos para Petrolina (Guia
Levi, julho de 1976).
Veja
também:
Índice
Contato
com o autor
Nota:
As informações contidas nesta página foram
coletadas em fontes diversas, mas principalmente por entrevistas
e relatórios de pessoas que viveram a época. Portanto
é possível que existam informações contraditórias
e mesmo errôneas, porém muitas vezes a verdade depende
da época em que foi relatada. A ferrovia em seus 150 anos
de existência no Brasil se alterava constantemente, o mesmo
acontecendo com horários, composições e trajetos
(o autor).
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Percurso:
Alagoinhas-Juazeiro
Origem da linha: A linha que ligou efetivamente a estação
de São Francisco, em Alagoinhas, ao rio São Francisco,
em Juazeiro, foi aberta entre 1880 e 1896 pelo Governo brasileiro,
que deu a concessão a, segundo algumas fontes, Miguel Argolo.
Em bitola métrica, seus trens partiam da estação
de São Francisco, onde chegava uma linha em bitola larga (1m60),
a E. F. Bahia ao São Francisco. Em 1911, essa linha teve a
bitola reduzida e as duas linhas foram unidas sob a concessão
dos franceses da Cia. Chemins de Fer Federaux
du L'Est Brésilien. Em 1935, tudo virou parte da VFFLB,
estatal, e a linha passou a se chamar Linha Centro. Em 1957, foi uma
das formadoras da RFFSA. Em 1975, deixou de existir o nome VFFLB.
Ainda circularam trens de passageiros entre Alagoinhas e Senhor do
Bonfim até 1989. Em 1996, passou a ser concessão da
Ferrovia Centro-Atlântica. Tem tráfego de cargueiros
até hoje.
ACIMA:
à esquerda, a estação de Juazeiro (nova); à
direita, a estação de Juazeiro (a original de 1896),
hoje abandonada. Foram a ponta norte da linha por muito tempo (Autor
desconhecido, fotos de 2004).
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Como a linha que ligava a estação
de São Francisco, na cidade de Alagoinhas, foi construída
originalmente pela Província da Bahia, e não pelos ingleses
da "Bahia ao São Francisco", esta estação
por muitas vezes era considerada uma estação "divisora"
nos trens Salvador-Juazeiro. Além do mais, as características
das duas regiões, antes e depois de Alagoinhas, sempre foram
bastante diferentes: a linha para Juazeiro passava por uma região
muito mais pobre e seca, dificultando as operações com
trens a vapor, que precisavam continuamente de água para seu
abastecimento. Não era difícil se adivinhar por que
os ingleses postergaram tanto a sua construção, até
um ponto em que a Bahia o tomou para si. Em 1911, os franceses receberam
a concessão de quase todas as linhas baianas e uniram as duas
ferrovias (além de outras). A partir daí, os tempos
e formas de operação entre Salvador, São Francisco,
Senhor do Bonfim e Juazeiro foram alterados inúmeras vezes.
Os exemplos de horários que são citados abaixo, em 1932,
1957 e 1976, mostram isso.
Com a eletrificação de todo o trecho Salvador-São
Francisco, nos anos 1950, havia obrigatoriamente troca de locomotivas
nesta última estação: somente trens a vapor ou,
depois, a diesel, podiam circular além dela. A eletrificação
foi desativada novamente quando já não havia mais trens
de passageiros, restando somente o trecho até hoje operado
pela CBTU entre Salvador e Paripe.
Não consegui informações de carros e locomotivas
e do número de carros nas composições; sabe-se,
no entanto, que durante boa parte do período de operações
os trens que serviam o ramal eram composições mistas.
Havia composições com carros-dormitório e carros-restaurante,
pelo menos nos anos 1930. A única fotografia que consegui,
de carros que circulavam na linha, aparece abaixo, na foto em Juazeiro.
O que provavelmente ocorria em Alagoinhas era que os trens provenientes
de Salvador eram divididos em seus carros, parte seguia para Juazeiro
e parte seguia para Aracaju, com adição de uma locomotiva
a vapor ou diesel, dependendo da época, para cada nova composição
formada. Da mesma forma, no regresso dos dois, as composições
seiam juntadas e aí tracionadas por uma locomotiva elétrica
até Salvador (isto após a eletrificação
da linha, claro). Na época em que havia paradas longas (noturnas)
em Santa Luzia ou em Senhor do Bonfim, a composição
que seguiria para Juazeiro podia ser uma nova (com baldeação)
ou parte da que havia chegado até estas estações.
Em 1932, os trens para Juazeiro partiam mesmo da estação
de São Francisco (Alagoinhas) 3 vezes por semana; não
havia trens nos finais de semana (Ver horários à esquerda).
Um deles (o das sextas-feiras) fazia baldeação em Santa
Luzia, onde havia que se esperar uma noite e sair para Juazeiro às
4 da madrugada. Os outros dois (segundas e quartas-feiras) seguiam
direto de São Francisco para Juazeiro, fazendo o percurso em
18 horas. Partiam à noite e tinham carros-dormitório.
No ano de 1957, já existiam trens diretos para Senhor do Bonfim.
Eram 4 por semana; dois deles eram mais rápidos, pois não
paravam até São Francisco (Alagoinhas) (Ver horários
à esquerda). Em Bonfim, havia espera pela composição
que seguiria para Juazeiro. Uma noite para dois dos trens, e 50 minutos
para os outros dois (aqueles mais rápidos). Estes faziam o
percurso Salvador-Bonfim em 14 horas e mais 6 horas para Juazeiro;
os outros faziam em 15 horas e depois de 6 horas de espera em Bonfim
eram as mesmas 6 horas para Juazeiro.
ACIMA: Estação de Juazeiro, em foto dos
anos 1950. Nas linhas do pátio, carros de passageiros que na
época faziam o percurso entre essa estação e
São Francisco, em Alagoinhas (Foto Enciclopédia
dos Municípios Brasileiros, vol. V, 1960, p. 564).
Em algum momento entre os anos de 1963 e o início de 1965,
a ponte ferroviária sobre o rio São Francisco foi inaugurada
e os trens para Juazeiro passaram a atingir Petrolina, no Estado de
Pernanmbuco, cidade situada à frente de Juazeiro e na margem
esquerda (norte) do rio. Não durou muito e os trens passaram
também a seguir direto até Paulistana, no Piauí;
até então, havia um trem Petrolina-Paulistana. Após
1972, esta linha foi desativada e erradicada, com o trem passando
a chegar até Petrolina apenas.
Em 1976, os trens da linha partiam direto de Salvador e iam até
Senhor do Bonfim apenas três vezes por semana, numa viagem de
quase 16 horas com uma parada um pouco maior apenas em Alagoinhas
(estação de São Francisco). Eram apenas três
trens por semana, e em dois deles, para se seguir para Petrolina -
a ponte ferroviária sobre o rio São Francisco já
estava aberta - havia que se tomar outra composição
em Senhor do Bonfim que partia pouco mais de uma hora mais tarde,
às dez horas da noite. O terceiro trem era aos sábados
e fazia uma viagem mais rápida para Bonfim, onde chegava depois
de 10 horas, mas às 4 da madrugada do domingo, e não
havia outra composição para seguir para Juazeiro (veja
horários ao lado esquerdo).
Em 1977, existia apenas o trem Salvador-Bonfim. A Juazeiro e a Petrolina
não se chegava mais por trem. Não havia nenhuma parada
ou baldeação em São Francisco ou outra estação.
Até 1979, esse trem ainda existia.
Em algum dia de 1980, o trecho Salvador-São Francisco (Alagoinhas)
deixou de existir, ficando isolado o trem de passageiros que ia e
vinha entre São Francisco e Bonfim.
ACIMA: estações do percurso:
à esquerda, Jaguarari, em
2003 (Foto Tesouros do Brasil); à direita, Senhor do Bonfim,
2005 (Foto Antonio de Azevedo Lima Jr. ). ABAIXO: à esquerda,
Queimadas, estação do percurso, onde desembarcaram em
1897 as tropas que foram destruir Canudos; à direita, ponte
Doutor Paulo de Frontin, próxima à estação
de Itiúba, nos anos 1950, debaixo da qual passava o trem (Foto
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, do IBGE, vol.
XX, 1958).
Um dos dois últimos trens de passageiros que circulou na Bahia
(exceto o trem metropolitano Salvador-Paripe, que funciona até
hoje) foi exatamente o que rodou entre São Francisco e Senhor
do Bonfim (parece que era apelidado de "Marta Rocha"), num
percurso de 317 km. O dia 17 de março de 1989 foi o seu último
dia, mesmo dia em que também foi desativado o trem Iaçu-Monte
Azul, no sul do Estado.
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