Trem de Mangaratiba
(Rio de Janeiro)

 

Central / RFFSA / CBTU (1911-1989)

Bitola: larga (1,60 m)


Acima, a estação de Santa Cruz, já em sua versão moderna, em 2004. Daqui partiam os trens "Macaquinho" e as automotrizes para Mangaratiba. Hoje ela é estação terminal dos trens da Supervias, que não passam dali embora a linha ainda exista (Foto Alexandre F. Costa) Abaixo, a estação de Itaguaí,em 2004, que por algum tempo, entre 1911 e 1914 e 1982 e 1989, foi ponto terminal da linha (Foto Milton Ribeiro).

Abaixo, horários do trem Santa Cruz-Mangaratiba (espera de 10 minutos com relação aos trens que vinham de Santa Cruz) em 1976 (Guia Levi, janeiro de 1976)



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Nota: As informações contidas nesta página foram coletadas em fontes diversas, mas principalmente por entrevistas e relatórios de pessoas que viveram a época. Portanto é possível que existam informações contraditórias e mesmo errôneas, porém muitas vezes a verdade depende da época em que foi relatada. A ferrovia em seus 150 anos de existência no Brasil se alterava constantemente, o mesmo acontecendo com horários, composições e trajetos (o autor).

Trem de passageiros que a partir da eletrificação do trecho Deodoro-Santa Cruz, nos anos 1950, passou a operar entre Santa Cruz e a estação terminal de Mangaratiba, com várias versões dependendo da época. Até 1911, a linha do chamado ramal de Mangaratiba somente existia até a estação de Santa Cruz, tendo alcançado Mangaratiba em 1914. A partir daí, o trem corria de Dom Pedro II ou de Deodoro até Mangaratiba, com isso acabando com a chegada da eletrificação, em 1945, que somente foi até Santa Cruz, obrigando então a existência de baldeação nessa estação para troca com trens a vapor e depois, por diesel. Esse trem foi extinto entre o final dos anos 1970 e o ano de 1984; há várias datas indicadas por ex-usuários. O Guia Levi de 1983 ainda acusa 2 trens diários em 1983. A partir de 1984, com a criação da CBTU, os trens passaram a ser operados por esta - nessa época, sobrava no ramal, parece, apenas o trem Santa Cruz-Itaguaí, que existia desde 1982. Um dos motivos da desativação dos trens, talvez o principal, foi a construção de uma linha cargueira entre Japeri e Brisamar, estação logo após Itaguaí, em 1973, que passou a dar prioridade para os trens de minérios para o porto de Guaíba, eliminando inclusive o trecho final da linha original que seguia até Mangaratiba.

Percurso: Santa Cruz - Mangaratiba. (Parte do ramal de Mangaratiba, que partia da estação de Deodoro)

Origem da linha:
Aberta pela Central do Brasil:
Santa Cruz - Itaguaí - 1911
Itaguaí - Mangaratiba - 1914
A linha existe até hoje, sendo que o trecho Santa Cruz-Itaguaí está abandonado e o trecho Brisamar (logo após Itaguaí) a Guaíba tem movimento intenso de carqueiros de minério para o porto de Guaíba. O trecho entre Guaíba e Mangaratiba foi erradicado.


ACIMA: O ramal (começava em Deodoro) de Mangaratiba em 1932 (Revista da Semana, 28/5/1932).
"Imagino que o trem D. Pedro II a Mangaratiba, desde 1914, era formado por carros de madeira e tração a vapor. Com a chegada das "diesels", em 1943, as Alco S1 passaram a fazer o percurso com os carros de madeira. Desde os anos 60, rodavam carros de aço-carbono padrão; com o "surto de turismo ferroviário" na RFFSA, as automotrizes Budd passaram a fazer - e com sucesso - a rota de Mangaratiba aos finais de semana, chegando mesmo a rodarem lotadas, com até 6 unidades múltiplas - primeiro e único registro operacional-comercial no Brasil de 6 automotrizes ligadas. Mas o comum era até duas ou três, no máximo e o trem rotineiro formado por carros de aço carbono, certamente devia atender durante a semana" (J. E. Buzelin, 2004).


Automotrizes RDCs que também trafegaram pelo ramal. No livro de Hélio Suevo, "A formação das estradas de ferro no Rio de Janeiro", 2004, ele afirma que em 1976 apenas operavam automotrizes nos finais de semana. Note a linha passando junto à praia, próximo a Mangaratiba (Foto Revista REFESA, 1969, acervo J. H. Buzelin).
"Ir a Mangaratiba devia se resumir em o passageiro pegar um trem até Deodoro (suburbano elétrico) e de lá baldear para outro "elétrico", até Santa Cruz. Dali, prosseguir até Mangaratiba. O "fim de tudo" foi gradativo a partir de 1973, ano em que o terminal de Guaíba iniciava as operações. Mangaratiba resistiu mesmo possivelmente até o final dos anos 70, quiçá 1982/4, para salvaguardar a dignidade do nosso querido Guia Levi. É interessante que no "Trens de Passageiros e Mistos - Horários e Outras Informações", editado pela Diretoria de Operações da Divisão de Transportes da RFFSA, atualizado em 28/02/1982, havia um par de trens, prefixos SDS-501 (que saía de Itaguaí, às 6:00hs, parando em Coroa Grande, Muriqui, Ibicuí e finalmente Guaíba, após 01:15hs de viagem) e o seu retorno, que era o SDS-502, saindo 17:35 hs, chegando em Itaguaí de volta às 18:40.sem que haja nesta data indicação de conexão com Santa Cruz" (J. E. Buzelin, 2004).

Os "Macaquinhos" - "O "Macaquinho" era um trem com carros de madeira que partia de Santa Cruz em três ou quatro horários diariamente. No Macaquinho só tinha gente jovem, a paquera já rolava solta dentro dos carros, muitas garotas... o cheiro de maconha era forte (tudo ao som de Pink Floyd e Black Sabbath). A linha passava em alguns cortes sensacionais, a gente nas janelas tocava o mato com as mãos, quase que dava pra pegar os cachos de bananas, logo ao lado da estrada. A rodovia era de terra e cheia de curvas, o trem dava de goleada. Havia várias passagens de nível, muitas com cancela, sinal e sirene. Aliás, o ramal de Mangaratiba foi, originalmente, uma linha bananeira. Aos sábados saía de D. Pedro II um elétrico de manhã cedo, que parava em Engenho de Dentro, Bangu, Campo Grande, entre outras. Quando chegava em Santa Cruz, uma RS-3 o puxava até Mangaratiba, já que a eletrificação acabava em Santa Cruz. Esse trem retornava por volta das 11 hs. Tinha também os RDCs que rodavam nos finais de semana, com até três unidades engatadas. Bons tempos aqueles. A gente chegava a controlar o horário durante o dia pela passagem do Macaquinho" (Milton Ribeiro, 2003).
Em outra referência aos "Macaquinhos", o mesmo Milton relata: "Havia três trens diários, (chamados de Macaquinhos) com 3 carros de madeira tracionados por uma U-5 ou RS3. Tinha tambem um elétrico que saia de D.Pedro II e que em Santa Cruz baixava os pantógrafos e passava a ser tracionado por uma RS3. Havia ainda o RI, com carros de aço carbono, tracionados por uma RS3 saindo de D.Pedro II diariamente, ao entardecer e retornando no dia seguinte pela manhã. E até um "triplex" de RDCs nos fins de semana. E tudo com horario certinho. Minha familia tinha uma casa de praia naquela região (Vila Geni) e a gente controlava as horas pela passagem do trem. É mole ou quer mais?" (Milton Ribeiro, 2001)
"Andei no tempo que era carro de madeira D.Pedro/Mangaratiba e depois no "Macaquinho" que ia de Santa Cruz até Mangaratiba e levava três horas para chegar ao destino. O Macaquinho puxado por loco diesel, os carros elétricos eram aqueles mais antigos, acho que eram os ingleses sem motor. Era interessante porque na ida o mar à direita e a montanha à esquerda. Uma paisagem maravilhosa, que transmitia tranqüilidade. Na maioria dos lugares passava pelas praias e pelas encosta a beira-mar; linda viagem. Além das paradas nas estações, se alguém no meio do caminho fizesse sinal ele parava também" (Fábio, Rio de Janeiro, RJ, 2003).

Trem de Itaguaí - "A partir de 29.06.1982, passaram a circular trens entre Santa Cruz e Itaguaí (10,922 km), com um movimento mensal de 24 mil passageiros. O ramal foi desativado em 25.04.1984, para substituição da ponte sobre o canal de São Francisco, e reativado em 11.07.1986" (Os 50 anos da eletrificação dos trens de subúrbio do Rio de Janeiro, 1937-1987, de Benício Domingos Guimarães). "Em julho de 1986, a CBTU colocou de volta em atividade um trecho do ramal de Mangaratiba somente entre as estações de Santa Cruz e Itaguaí por trem com 4 carros movido a diesel, e acrescentou entre estas duas estações outras três (João XXIII, São Fernando e Distrito Industrial), e, apesar de sempre estar lotado em todos os horários - tinha de hora em hora, por volta de 1989 o trem foi definitivamente extinto. Os raros técnicos que vistoriavam a linha a chamavam de "Ramal de Itaguaí", me lembro que quando o trem ficou 1 mês em manutenção, o RJTV chegou a noticiar e chamou o ramal desse nome. Em cada carro existiam roletas onde os funcionários da CBTU recolhiam as passagens e na saída os passageiros passavam por uma roleta idêntica às que são usadas hoje nos bancos, tipo detector de metais" (Danilo Cabral de Aguiar, Itaguaí, 2005). Já a Revista Ferroviária, edição de julho de 1986, anunciava a volta do trem no dia 10 de julho e com três carros movidos a diesel, "idênticos aos que rodavam no trecho Costa Barros-São João do Meriti, diferenciando-se desta apenas por ser tracionada a diesel". Chamava o novo trem de "trem-ônibus", com capacidade para transportar 1.200 pessoas por viagem (!). As estações, diferentemente do citado acima, chamavam-se Arrozal, Cristo Redentor e Distrito Industrial. Segundo Marcelo Almirante, o trem foi extinto definitivamente em 1990.

Acima, o trem Santa Cruz-Itaguaí que entrou em operação em julho de 1986, em foto da Revista Ferroviária, julho de 1986. Entretanto, esse
deve ser o trem de Costa Barros a São João do Meriti, por causa da eletrificação da linha fotografada. Segundo a reportagem, exceto pelos
pantógrafos, a composição era exatamente igual.