|
|
HISTÓRICO DO RAMAL DE NOVA ERA
O antigo ramal de São José da Lagoa, da Central do Brasil, foi originalmente
construído por uma empresa particular. Documentos de 1886 referentes àquela
linha falam de uma tal Companhia Estrada de Ferro Espirito Santo a Minas,
de capital estrangeiro. O mesmo documento indica que a linha já estava
adiantada na região de Sabará, faltando apenas a conclusão da ponte sobre
o rio das Velhas para se conectar com a Central. Outros documentos falam
de uma estrada de ferro contratada pela empresa Banco Viação Brasil, a
qual, partindo de algum ponto naquele rio, em Sabará, fosse atingir as
jazidas de ferro de Itabira. O contrato fala de uma ferrovia de bitola
de 60 cm, assim como outras contratadas pela mesma empresa em Minas Gerais.
Vemos, portanto, que o objetivo da construção do ramal era atingir a região
das jazidas de minério de ferro. Isto indica que os construtores buscavam
alcançar uma região ainda não atingida por nenhuma ferrovia, mas que já
se revelava atraente negócio. É de se lembrar, ainda, várias ferrovias
já estavam de olho nas reservas minerais do quadrilátero ferrífero mineiro,
como a Leopoldina, a Central e até mesmo a Estrada de Ferro Therezópolis,
tinha concessão para buscar minério em Itabira do Campo, atual Itabirito.
Tratava-se, pois, de se buscar uma fonte de renda de durabilidade assegurada
por longa data, já que até então a maioria das ferrovias tinha como meta
a agricultura, principalmente as paulistas. Fotos de 1908 mostram que
o material rodante utilizado na construção do ramal ostentava a inscrição
"EFSSB - Estrada de Ferro Sabará a Santa Bárbara", o que comprova que
a obra foi iniciativa particular. Entretanto, ainda faltam dados precisos
para se determinar o momento exato em que a linha passou a controle do
Governo, sendo incorporada na Central. O fato é que a Central não menciona
a encampação em seus relatórios.
A Estrada de Ferro Vitória a Minas e suas variantes no ramal
A EFVM começou a circular no ramal ainda nos anos 40. Fotos antigas mostram
suas locomotivas tipo Mikado tracionando trens de minério na região de
Santa Bárbara naquela época. Sua presença passou a ser cada vez mais acentuada
a partir do início dos anos 60, principalmente na região de João Monlevade,
onde disputava cargas com a Rede Ferroviária Federal AS - RFFSA. E foi
por esse tempo que surgiram as intrigas entre o pessoal das duas empresas
quanto à questão dos limites de operação de cada uma. Mesmo após a venda
de parte do ramal à Companhia Vale do Rio Doce - CVRD no fim dos anos
60 (por ocasião do início da exploração da mina de Fábrica) as duas empresas
não se entendiam sobre a questão dos limites de operação de cada uma naquele
ramal. Antigos funcionários da Rede afirmam seus trens tinham sempre a
prioridade de tráfego, forçando os trens da CVRD a paralisações em todos
os pátios do ramal. O documento anexo mostra que tal intriga perdurou
até o início dos anos 90. Um pouco mais tarde, a CVRD iniciou planos para
construir uma linha inteiramente nova que viesse a eliminar um gargalo
existente no trecho entre Costa Lacerda e Sabará, mormente em função da
abertura de algumas minas na região, como a Samitri (em Sabará) e a Socoimex
(em Barão de Cocais). Assim, em 1982 iniciaram-se as obras de construção
da primeira etapa desta variante, no trecho General Carneiro a Henrique
Fleiuss (na terminologia da CVRD, Pedreira Ida ao Pátio 6). As obras duraram
seis anos em virtude de dois grandes túneis, onde não era permitido usar
carga de explosivos que viesse a comprometer o patrimônio histórico das
cidades de Sabará e Caeté. Finalmente, em 1988, a CVRD inaugurou a primeira
fase da variante, fazendo com que o trecho de Sabará a Henrique Fleiuss
da antiga Central fosse totalmente erradicado pela RFFSA. Os trilhos ficaram
ainda no local por vários anos, até que em 1992 a Rede decidiu usá-los
na construção da variante de Sete Lagoas. Os trilhos da linha velha de
Sete Lagoas, por sua vez, foram utilizados na variante de Curvelo em 1996.
Com a erradicação do trecho, as estações de Pompeu, Mestre Caetano, José
Brandão, Valporto de Sá, Caeté, Baú, João Vasconcelos, Canga, Gongo Soco
e Henrique Fleiuss foram desativadas. Na época, Pompeu já havia sido demolida,
restando hoje apenas a antiga plataforma. A última delas, Henrique Fleiuss,
também já havia sido demolida pela RFFSA, mas teve seus vestígios finais
varridos pela própria variante, que ali finalizava com um corte no terreno
exatamente onde se situava o prédio da estação. Hoje o local é marcado
pela presença de um viaduto sobre a linha, o qual conduz às terras na
Mineração Barra Mansa. Também ficaram desativados os cinco primeiros túneis
do ramal. A linha entre Sabará e Siderúrgica ainda existe e é operacional,
uma vez que atende à siderúrgica Belgo Mineira. No início dos anos 90,
a CVRD iniciou a segunda fase da construção da variante, entre o Pátio
6 (Henrique Fleiuss) e Costa Lacerda. As obras foram mais rápidas em função
da necessidade de se furar apenas dois túneis pequenos, sendo o primeiro
deles paralelo ao túnel 6 do antigo ramal. Com a abertura ao tráfego em
1996 desta outra fase da variante, a linha velha entre Henrique Fleiuss
e Costa Lacerda foi sendo gradualmente abandonada pela Vale. A princípio,
o trem de passageiros continuou a circular até 1997, quando fez sua última
viagem. Mas alguns cargueiros ainda continuaram a circular, principalmente
os de pequeno porte que faziam manobras com vagões entre Costa Lacerda
e os pátios da variante nova. Em 1998, um problema estrutural na ponte
sobre a represa do Peti, em Santa Bárbara, fez com que o tráfego voltasse
à linha velha. Mas o que assegurou definitivamente a preservação da linha
nesse segundo trecho foi a iniciativa de preservá-lo para fins turísticos,
quando se criou o projeto Trem do Ouro - mais tarde transferindo a outras
regiões por influência política. Isto assegurou a linha no trecho da serra
de Barão de Cocais até Costa Lacerda. Apenas as estações de Santa Bárbara
e Barão de Cocais ainda restam de pé neste trecho, sendo que os prédios
de Gusa e São Bento foram demolidos no período da RFFSA. Em Gusa, ainda
restam a caixa d'água e fundações da estação e prédios anexos; em São
Bento, apenas a plataforma. Barão de Cocais ainda possui dois prédios
modernos construídos pela CVRD; um em cada extremidade do pátio. Ambos
estão muito depredados. O trecho entre Henrique Fleiuss e Barão de Cocais
ainda é operacional para atender a siderúrgica Gerdau. Dali em diante
a linha está abandonada e tem sido furtada em seus dormentes e placas
de apoio. Os trilhos do ramal são TR-68 e por isso não foram furtados,
uma vez que as barras possuem 200 metros de comprimento e são difíceis
de serem cortados. Já o trecho além de Costa Lacerda, sofreu muitas remodelações.
Florália ficou fora da linha e foi demolida ainda no período da Rede.
Em Rio Piracicaba, a Vale construiu uma estação nova em virtude do alargamento
do pátio. Em João Monlevade, o prédio atual está no mesmo local do antigo,
de frente para o triângulo, onde existia um girador de locomotivas nos
tempos da Central. Pedra furada e Macacos foram desativadas em função
da variante de Pedra Furada. Os prédios ainda existem e foram adaptados
para residências. Finalmente, Nova Era foi desativado em 2001 com a abertura
do túnel de linha dupla situado um pouco depois do prédio da estação da
CVRD, já desativada. Sobre Nova Era vale a pena um comentário. A estação
foi primeiramente inaugurada pela antiga EFVM em 13 de novembro de 1932,
pois a crise política e econômica por que passava o país naquela época
provocou uma escassez de recursos generalizada e as empreiteiras não conseguiam
arcar com as despesas. Os salários atrasados levaram os trabalhadores
a fazer greve e abandonar o serviço. Assim, a estação foi inicialmente
usada pela EFVM, até que a Central pudesse concluir sua linha, o que se
deu somente em 30 de janeiro de 1936. O prédio original situava-se no
bairro Capelinha, pouco depois da estação construída pela CVRD. Depois,
mudou-se para o Centro, onde está até hoje - bem ao lado do segundo túnel,
aberto pela CVRD. Aliás, este túnel e o Capelinha, foram fechados após
a abertura do "tunelão" em 1998, que retirou a linha definitivamente de
dentro do perímetro urbano daquela cidade.
Bibliografia consultada:
1) BAPTISTA FILHO, José - Adeus, São Jose da Lagoa. Rio de Janeiro, Mergulhar,
1992.
2) CARVALHO, Abel - Trilhas, trilhos e rios da minha vida. Coronel Fabriciano,
Formato Lê, 2003.
3) Documentos diversos do autor.
Colaboraram neste artigo:
1) Gustavo Henrique (Itabira, MG)
2) Gutierrez Lhamas (Belo Horizonte, MG).
Pedro Paulo Rezende 28/jul/2004
|