Trem de Salvador a Monte Azul
(Bahia/Minas Gerais)

 

VFFLB (1950-1975)
RFFSA (1975-c.1980)

Bitola: métrica


ACIMA: Estação da Calçada, em Salvador, anos 1980.

ACIMA: Estação de Monte Axul em 1956.

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Nota: As informações contidas nesta página foram coletadas em fontes diversas, mas principalmente por entrevistas e relatórios de pessoas que viveram a época. Portanto é possível que existam informações contraditórias e mesmo errôneas, porém muitas vezes a verdade depende da época em que foi relatada. A ferrovia em seus 150 anos de existência no Brasil se alterava constantemente, o mesmo acontecendo com horários, composições e trajetos (o autor).

Percurso: Da estação da Calçada, em Salvador, até Monte Azul, no sertão do norte mineiro, passando por cidades como Santo Amaro da Purificação, Cachoeira, São Felix e Brumado.
Origem da linha:
Esta linha começou a operar em 1950, quando se completou a ligação entre as cidades de Contenda, no sul baiano, onde a linha terminava desde 1928, e Monte Azul, no extremo norte de Minas Gerais. Entretanto, há de se lembrar também que somente em 1943 a linha que vinham de Salvador e a que vinha de Contendas foram unidas.

A linha que unia Salvador a Monte Azul, terminada em 1950, ligou o Brasil ferroviário de norte a sul, depois de várias tentativas frustradas, como a da Central do Brasil (Pirapora-Belém) e a da Mogiana, ainda nos anos 1890. Porém, em tremos de trens de passageiros, as baldeações eram tantas para se ir de São Paulo, por exemplo, a Fortaleza, e a linha dava tantas voltas que, como ligação ferroviária para passageiros, foi um "furo n'água".
No entanto, o trem de passageiros que fazia a ligação São Paulo a Salvador era conhecido como "trem baiano" e muito utilizado de 1950 a 1976 pelos imigrantes que procuravam a "Terra Prometida", ou seja, a São Paulo dos muitos empregos, pelo menos na imaginação dos migrantes.

AO LADO: Trem da VFFLB na estação de Brumado, BA. Anos 1950 - Foto IBGE

A inauguração dessa linha também desviou muitos passageiros que vinham de Pernambuco e norte da Bahia pelo rio São Francisco, embarcando em Pirapora no trem da Central para Belo Horizontre e dali para São Paulo.
Os trens da Viação Férrea do Leste Brasileiro (VFFLB) que são vistos em raras fotografias das linhas baianas não eram os que chegavam a Belo Horizonte e muito menos a São Paulo. Em Monte Azul, Minas, acontecia a primeira baldeação para os trens da Central e, em Belo Horizonte haveria mais uma.

AO LADO: Trem da VFFLB na estação de Brumado, BA. Anos 1970 - Foto Movimento Trem de Passageiros

Em 1976, um acidente com o trem baiano em território mineiro foi utilizado como boa desculpa para a suspensão temporária desses trens; mesmo assim, até março de 1977 ele existia, pelo menos nos guias. Em 1978, voltaram a rodar, porém, somente até a cidade de Iaçu, onde paravam. Os migrantes podiam pegar o trem do ramal Iaçu-Bonfim para subir para o norte da Bahia ou para virem de lá sem passar por Salvador - o problema foi que o ramal citado foi suprimido junto com a continuação da linha até Salvador, e Iaçu passou a ser ponto final (ou inicial) de migrantes, agravando na época a situação da cidade, o que fez como que a linha Monte Azul-Iaçu de passageiros também fosse extinta por volta de 1980.

A linha Salvador a Monte Azul começou a operar em 1950. Em fevereiro de 1958, seu horário era como o que aparece à esquerda no Guia Levi. Não era diário. Salvador tinha 6 partidas por semana - no domingo, não partia nenhum. Desses seis, 4 eram trens mistos e 2 (segundas e sextas) eram "RS", que, acredito, não fossem mistos. Somente o MS-1 das segundas-feiras fazia todo o percurso, partindo da Calçada (Salvador) às 06:30 e chegando no dia seguinte em Monte Azul às 16:40. Portanto, eram 34 horas de viagem, isto, se não atrasasse: trens mistos eram mestres no atraso, devido ao embarque e desembarque de cargas dos vagões cargueiros acoplados às suas composições. Porém, note-se que o trecho até Conceição de Feira era feito com apenas três paradas intermediárias. Depois é que vinha o suplício, parando em praticamente todas as intermediárias.
Já o R das segundas e sextas-feiras ia somente até Iramaia, depois de quase 13 horas de viagem, parando em todas as estações após a de Mapele, na periferia de Salvador. Já os mistos de

terça, quinta e sábado seguiam de Salvador parando em todas as estações e ficando em São Felix depois de mais de oito horas de viagem.
Havia um trem que partia de Machado Portela 'as terças e quintas e que seguia até Caculé.
Se notarmos os horários das voltas, veremos também alguns trens, como na ida, de percurso menor. A conclusão é que o trem Salvador-Monte Azul, mesmo, somente circulava nas quartas (chegando na quinta) para a ida e nas sextas (chegando nos sábados) para a volta.

Em janeiro de 1978, próximo de seu fim, a situação era bem outra (veja o mapa de horários imediatamente cima, de fevereiro de 1978 do Guia Levi): havia somente uma partida por semana aos sábados, de Monte Azul, de um trem NN que chegava em Iaçu nas manhãs de domingo e não mais a Salvador, com duração de quase 22 horas. A volta se dava na sexta-feira seguinte, chegando nos sábados à noite em Monte Azul. Não havia nenhum outro trem nem nesse percurso nem em algum intermediário.
Na antiga linha, sobrevivia ainda o trem Salvador a Candeias, além dos subúrbios Salvador a Paripe. Entre esta última e Iaçu, já não havia trem algum, deixando as tradicionais cidades de
Santo Amaro, Cachoeira e São Felix sem trem de passageiros algum desde meados de 1977. Hoje em dia a linha nem é muito usada e somente para cargas. Dos trens de passageiros da linha original, apenas o trecho Salvador a Paripe é utilizado pela CBTU para trens metropolitanos, trens estes que existem desde priscas eras. Ali também está o último resto de eletrificação da linha Salvador-Monte Azul, eletrificação que ia até a estação de Teixeira de Freitas, pouco antes da rampa para a estação de Cachoeira, no vale do rio Paraguaçu. A linha entre Paripe e Mapele já se foi há muitos anos, abandonada e com trilhos roubados. Somente após Mapele a linha continua em trânsito, recebendo trens cargueiros vindos do norte da Bahia e também do porto de Aratu.