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Ramal de Catuiçara - 1940

Ramal de Catuiçara e ramais secundários e particulares das usinas - www.bangue.com.br
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ESTIVE NO LOCAL: NÃO
ESTIVE NA ESTAÇÃO: NÃO
ÚLTIMA VEZ: N/D
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E. F. Santo Amaro (1883-1939)
V. F. F. Leste Brasileiro (1939-1964)
TERRA NOVA
Município de Terra Nova, BA
Ramal de Catuiçara ou de Santo Amaro - km 82,502 (1960)   BA-3011
    Inauguração: 1883
Uso atual: moradia   sem trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
 
 
HISTORICO DA LINHA: A E. F. de Santo Amaro foi construída em 1883 partindo da estação de Santo Amaro e atingindo a estação de Jacu, e apenas em 1912 foi prolongada até Bom Jardim (hoje Catuiçara). Era um ramal construído para atender aos usineiros da região. Era uma linha que se ligava à linha que vinha de Salvador pela estação de Buranhem, comum às duas linhas. Esta era também ponta do ramal de Buranhem, que partia de Água Comprida (Simões Filho). Pelo que se pôde deduzir, a ferrovia somente foi aberta ao transporte público por volta de 1940, quando, incorporada à V. F. F. Leste Brasileiro, transformou-se num de seus ramais. Várias modificações e retificações de linha durante os anos 1940 deixaram o trecho Santo Amaro-Buranhem fazendo parte da nova linha Sul e o trecho que sobrou, Buranhem-Catuiçara, passou a ser o ramal de Catuiçara. Este por sua vez funcionou até 1964, quando foi desativado.
 

A ESTAÇÃO: A estação de Terra Nova foi inaugurada em 1883 pela E. F. Santo Amaro.

Houve resistências para a construção da linha. A Companhia Estrada de Ferro de Santo Amaro pertencia à província, mas em sua organização inicial planejada por Sergimirim, necessitava faixas de terras de dois engenhos e de uma fazenda. O Engenho Terra Nova, o Engenho Periperi e a fazenda Caracanha pertenciam à Baronesa de Bom Jardim e a seus herdeiros.

A província em nome do governo imperial, alegava que uma vez que as terras foram doadas às famílias, por sesmaria, o Estado gozava, em principio, do direito inerente de desapropriá-los. José Pacheco Pereira, proprietário rural, genro da Baronesa e advogado dos reivindicadores, argumentava que a terra por onde passava os trilhos não provinha de sesmaria.

Pode-se afirmar que, no inicio do século XX, o povoado já era chamado de Terra Nova. Isso se confirma nos dois principais pólos econômicos, no Transporte e na Agricultura: Terra Nova foi o nome dado tanto à estação ferroviária como à usina de açúcar. A usina de Terra Nova começou a operar em 1902.

Os concessionários desprenderam na construção da usina e do primeiro trecho do "Ramal Pacheco", de 3 ½ quilômetros, inclusive 1 ½ de linhas férreas na área da usina, para desvios de canas, lenha e produtos, a importância de Rs 1:126$000 em moeda legal. Este "ramal Pacheco" parece ter sido o desvio particular que saía do ramal de Catuiçara, próximo a Terra Nova, para a Usina São Bento.

Próximo à estação de Terra Nova, saía, também, para o outro lado da linha, o ramal particular de Papagaio.

A primeira safra apurada pela usina, de 1901 a 1902, coincidiu com a mais baixa de açúcar conhecido.

Em 1906, a usina inaugurou o primeiro trecho do ramal de Nova Sorte, com 6 km de linha (Mensagem do Governador do Estado da Bahia, 1906, p. 44).

Em 1908, quando os resultados da usina desde a sua abertura tinham sido ruins, os proprietários pedem benesses ao Governador: "O arrendamento a outras usinas de engenhos, que forneciam cana a Terra Nova e o desenvolvimento de outras usinas que até então se limitavam a trabalhar cultura própria e a ligação dessas à E. F. Santo Amaro, auxiliadas pelo Estado, fez decrescer o fornecimento de cana obrigando os concessionários, para compensar a perda de tão sensível quantidade de matéria prima, a aplicarem o pequeno saldo das safras, acrescidos de outras operações de credito, na construção de ramais férreos. Assim é que o Ramal Pacheco, iniciado em 1901, foi prolongado e construído um desvio de 500 metros de extensão para servir ao engenho Aramaré, ficando com extensão de 4,5 km.

Esses concessionários construíram ainda o primeiro trecho do ramal Boa Sorte, de 6 quilômetros de extensão, com trilhos de aço 21 quilos, por metro, com obras d'arte, tendo sido este ramal trafegado pelas locomotivas e material pesado da E. F. Santo Amaro. Igualmente foram necessários e impostos pela experiência diversos melhoramentos e mecanismos novos de modo que a usina se mantivesse ao nível de suas congêneres que, como já dissemos, com as ligações com a E.F. Santo Amaro, vinham concorrer na aquisição de matérias prima.

Comparando-se a relação de mecanismos, aparelhos e linhas férreas, de que se compunha a Usina Terra Nova, logo depois de sua inauguração em 1901, de que existe arquivado no Tesouro documento constante de uma certidão de inscrição hipotecaria feita em Santo Amaro, em cumprimento a uma das cláusulas do contrato, comparando-se esta relação com o que hoje existe na Usina, verifica-se que os concessionários instalaram mais os seguintes aparelhos e mecanismos: (...) Uma balança nova de capacidade de 21 toneladas, com lastro de ferro de 9 metros de comprimento com trilhos fixos sobre longarinas de ferro, para pegar vagões de cana e lenha da E.F. de Santo Amaro. Ramais férreos e material rodante: Ramal Pacheco e Aramaré de 4.1/2 quilômetros de extensão, com trilhos de ferro, usado, de 22 quilos por metro, com obras d'arte, com três desvios e um ramal de
500 metros para o engenho Aramaré, atravessando os canaviais dos engenhos, Terra Nova-Periperí e Aramaré. Ramal Boa Sorte - com o primeiro trecho construído de 6 quilômetros de extensão.

Construíram mais os concessionários o primeiro trecho do Ramal Boa Sorte, de 6 quilômetros de extensão, com trilhos de aço 21 quilos, por metro, com obras d'ate, tendo sido este ramal trafegado pelas locomotivas e material pesado da E.F. Santo Amaro. Uma locomotiva, 10 toneladas, Baldwin, tendo mudado há dois anos a caldeira e fornalha e este ano rodas motores e reparo de todas as peças de movimento e casa do maquinista. (...) 20 vagões com lastro de aço de 414 metros de comprimento por 2 de largiura, capacidade de 6 toneladas cada um. 5 vagões cm lastro de aço de 9 metros por 2 de largura sobre truques, capacidade de 12 toneladas cada um.

(...) Demonstrado como ficou, Exmº Snrs. que de fato os concessionários têm realizado as benfeitorias e linhas férreas na Usina Terra Nova, descritas na presente petição, e que estimou a importância total do mesmo em quantia equivalente a dos juros vencidos, em 31 de dezembro de 1907, vem os concessionários que se digne tornar em consideração o que alegam, autorizando ao Tesouro do Estado a fazer
compensação da importância das benfeitorias com a dos juros vencidos, ficando a dever a amortização, que os concessionários se obrigam a fazer, de acordo com os recursos da próxima safra, bem como a entrar com a importância de R$ 30:000$000, correspondentes aos juros pelo tesouro no fim do primeiro semestre do corrente ano e a efetuar igual pagamento no fim do segundo semestre, ficando deste modo regularizados as obrigações decorrentes do contrato e habilitados os concessionários a desenvolverem o progresso da zona em que está a usina situada. Pede deferimento. Bahia 8 de agosto de 1908. Cezar Rios Comp.".

Com a incorporação da E. F. Santo Amaro pela Viação Férrea Federal do Leste Brasileiro (VFFLB) em 1939, a estação passou a servir ao transporte público. Quando o principal transporte ainda era o trem do ramal, os dias de feira eram programados, nos lugarejos próximos , que eram distritos de Santo Amaro de forma que os feirantes pudessem participar das feiras, pois parte deles circulava de uma para outra. Assim a feira de Jacuípe era domingo, a de Terra Nova era segunda, a de Catuiçara era sábado, como também a do Jacu. Todos esses locais faziam parte do trecho ferroviário facilitando o deslocamento dos feirantes de uma para a outra feira.

Em 20/10/1961, os distritos de Amélia Rodrigues (Lapa), Teodoro Sampaio (Bomjardim), Terra Nova, Conceição de Jacuípe (Berimbau), se desfiliaram de Santo Amaro tirando deste os limites que tinha com os municípios de Alagoinhas e vizinhos, Feira de Santana, Pedrão e Coração de Maria. Foi formado o município de Terra Nova. Em 1961, ano da sua emancipação, a ferrovia tinha 80 anos de atividade e a usina tinha apenas 60 de moagem.

Sendo tanto um como outro empreendimentos muito importantes, ou até indispensáveis na economia. Seus desaparecimentos foram precoces, e muito prejudiciais para a região. A indústria de açúcar que, desde o seu início, na época dos engenhos, viveu sucessivas crises, com o novo processo industrial da cana de açúcar, não mudou muito, as crises continuaram, culminando com o fechamento de uma a uma das usinas (S. Carlos, S. Bento, Passagem, Santa Elisa, Cinco Rios etc). O ramal de Catuiçara foi fechado em 25/05/64, de acordo com ferroviários da região. Levou um período ainda servindo as usinas Terra Nova e Paranaguá, sendo depois erradicado pela RFFSA, retirando trilhos e agulhas.

A vez de Terra Nova chegou: no ano de 1972, tornou-se uma usina de fogo morto. "Em Terra Nova, o povo viveu uma vida de cana, canavial, engenhos e usinas. E por isso, como os demais negros do Recôncavo, brincavam e se distraiam do mesmo modo: era o samba de roda, lindro-amor, quermesses, queima de palhinha, mês de Maria nas casas. Esses folguedos foram desaparecendo com o tempo. Partiram com o Trem de Catuiçara, com a moagem da usina, antes até da chegada do asfalto e da televisão".

Das usinas, instaladas no inicio do século XX ou nos últimos anos do século XIX, delas só resta a usina Aliança. A estação de Terra Nova, ainda existe, em petição de miséria, servindo de moradia, no meio de imensa sujeira. "Esta não é a primeira estação. Apesar de ter sido reconstruída exatamente no mesmo lugar da anterior, foi erguida com um telhado de uma água. A primitiva tinha de duas águas, com varanda avançando em proteção a plataforma da sua frente" (Textos baseados nos textos do site www.bangue.com.br).


1960?
AO LADO:
Bilhete da Leste Brasileiro de primeira classe, em trem de Calmon a Terra Nova, talvez anos 1960 (Acervo desconhecido).

ACIMA: A usina de Terra Nova, hoje praticamente toda derrubada. Uma das poucas construções ainda de pé é a velha chaminé (a mais alta). Ao fundo, a cidade de Terra Nova, hoje sede de município. À esquerda, o leito do ramal de Catuiçara, com a ponte ao fundo. A estação estava à esquerda, fora da foto (Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, volume XXVI, IBGE, 1958).

(Fontes: www.bangue.com.br; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960; IBGE: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, 1958; Mapa - acervo R. M. Giesbrecht)
     

Estação de Terra Nova, em 2003. Ao fundo, à direita, a chaminé da antiga usina. A estrada é o velho leito do ramal. Acervo do site www.bangue.com.br
 
     
Atualização: 24.06.2020
Página elaborada por Ralph Mennucci Giesbrecht.