A B C D E
F G H I JK
L M N O P
Q R S T U
VXY Mogiana em MG
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Mombuca
Chave do Barão
Rio das Pedras
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seção Ituana - 1935
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ESTIVE NO LOCAL: SIM
ESTIVE NA ESTAÇÃO: SIM
ÚLTIMA VEZ: 2005
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Cia. União Sorocabana e Ytuana (n/d-1907)
Sorocabana Railway (1907-1919)
E. F. Sorocabana (1919-1971)
FEPASA (1971-1984)
CHAVE DO BARÃO
Município de Rio das Pedras, SP
Ramal de Piracicaba - km   SP-1448
Altitude: -   Inauguração: n/d
Uso atual: demolida   sem trilhos
Data de construção do prédio atual: 1899 (já demolido)
 
 
HISTORICO DA LINHA: O ramal de Piracicaba foi construído pela Cia. Ituana a partir de 1873, partindo da estação de Itaici, na linha, também da Ituana, entre Jundiaí e Itu. Em 1892, houve a fusão com a Sorocabana, formando a Cia. União Sorocabana e Ytuana (CUSY). Em 1893 o ramal chegou a São Pedro, ponto terminal, 58 km à frente de Piracicaba, onde havia chegado em 1877. A Ituana foi definitivamente incorporada pela Sorocabana em 1905, com a compra da CUSY pelo grupo americano de Percival Farquar. O ramal - algumas vezes chamado também de ramal de São Pedro - teve o trecho final, entre Piracicaba e São Pedro, suprimido para trens de passageiros em 1966 e seus trilhos foram retirados em 1980. Até esta época, ainda seguiam cargas para a Usina Costa Pinto e para a Dedini. O tráfego de passageiros entre Itaici e Piracicaba acabou em 15/2/1977, último dia de circulação e cinco dias antes do centenário da linha, enquanto trens de carga continuaram trafegando cada vez menos até meados dos anos 1980. Por volta de 1990, os trilhos, já abandonados, foram retirados pela agora FEPASA.
 
A ESTAÇÃO: A Chave do Barão não tem data de inauguração conhecida. Devia ser uma chave, ou seja, um pequeno estribo, provavelmente uma plataforma com cobertura, entre as estações de Rio das Pedras e de Mombuca. O relato a seguir é muito bonito: "Vou começar pelas divisas: Estrada de Ferro Sorocabana, Sítio do Sr. Antonio Murilo, Avelino Soares de Barros, Alfredo Carvalho, fazenda Saltinho, David, Anésio e João Basanelo. Quando papai comprou a Chave do Barão, eu morava em Salto, na Chácara Donaliso. Para tomar conhecimento do pessoal que residia no local, papai passou diversos dias hospedado na casa do Sr. Antonio Murilo, até a chegada da mudança. Juntamente com papai vieram o mano José com a família e posteriormente o Neno com a família. Não posso precisar o tempo que moraram na Chave. Durante algum tempo mamãe ia nos visitar em Salto e certa ocasião ela falou: - Eu quero que você venha morar na Chave. A minha permanência em Salto foi de quatro anos e depois mudei para a Chave do Barào, juntamente com papai, Bepim e o Neno. Quatro famílias e o tempo foi passando, trabalhando todos juntos na limpeza do pomar de laranjas e demais plantações. Na fazenda havia seis casas para terceiros. Uma dupla e outra com sede da propriedade, onde nós morávamos e outra onde funcionava uma escola isolada. A professora que lecionava nesta escola rural vinha da cidade de Piracicaba, através do trem misto que passava às nove horas, com parada na Chave do Barão, de todos os trens que por ali passavam. Às treze horas a professora retornava para Piracicaba. A escola da Chave do Barão naquela época, ministrava até o terceiro ano primário e após isso os alunos concluíam o quarto ano em Mombuca, distante da Chave uns cinco quilômetros, cuja condução eram o trem. Na Chave do Barão moravam as seguintes famílias: Paschoal Ricetto, Antonio Ricetto, Natálio Taboada, João Simionato, Viúva Raquela Longo e Henrique Tonin. Ao passar dos anos, estas famílias se mudaram, permanecendo mais tempo a família Longo. No lugar das que saíram apareceram as seguintes famílias: Júlio Simionato, Antonio Carretero, Raimundo Padovesi, Antonio Quiles, Olívio Rossi, Natal Moretti, Augusto Covolan, João Carlos, Vicente de Souza, João Benedito Gomes e Luiz Romero. Na Chave do Barão não havia nenhuma benfeitoria. Papai construiu um barracão, servindo ao mesmo tempo de paiol, depósito de cereais, cantina para a fabricação do vinho anualmente, onde o Pedro amassava as uvas com os pés juntamente com o nono presente, era isso que ele mais gostava e admirava, falava para todas as pessoas quando os visitava: "Este é o vinho do padre para dizer a missa." Construímos um pequeno chiqueiro para criação de porcos para o gasto da casa. Na compra da Chave havia uma carroça e um burro. Papai trouxe da fazenda São Joaquim um burro e um cavalo, gado não posso dizer se tinha. Após algum tempo compramos quatro vacas leiteiras e respectivos bezerros. Com o passar do tempo não foi mais necessário apanhar leite dos vizinhos. Decorrido certo tempo, o nosso leite acabou causado por uma epidemia, matando as vacas e os bezerros. Após essa epidemia, resolvemos comprar outra vaca chamada Manolita, cujo dono era a família Purgato de Mombuca. Falando da Manolita, uma vaca maravilhosa que dava vinte litros de leite cada ordenha. Mas infelizmente a Manolita teve a mesma sina das outras. Agora mudando de assunto, falando um pouco de papai que naquela época não esqueceu da plantação de uvas. Certo dia tomou o trem que passava em frente à nossa fazenda e foi até a cidade de Salto, na chácara Donalísio, trazendo consigo um feixe de mudas de videiras enxertadas. Plantamos, fizemos as covas, estercamos, onde após algum tempo colhemos uvas e fabricamos o delicioso vinho, amassado com os pés. O nono sempre dizia: "Este vinho pode rezar a missa, porque é vinho puro de uva". Para falar a verdade, era um vinho delicioso, igual a este só na outra encarnação. Papai deveria ter estranhado muito a nova vida na Fazenda Chave do Barão em vista da Fazenda São Joaquim, mas graças a Deus tudo foi a frente, com o plantio do vinhal. Papai passava os dias capinando, plantando feijão, criação de porcos, vaca de leite e animais de custeio. Papai gostava muito de caçada de codornas. Perto da Chave havia bairros denominados Alambari de Cima, Alambari do Meio, Alambari de Baixo. Nestes bairros, plantavam muito arroz e após a colheita apareciam muitas codornas para comer os grãos de arroz que ficavam espalhados pelo chão. Papai fazia sempre suas caçadas trazendo em seu retorno muitas codornas. Estes terrenos após alguns anos não mais serviu para caça. No lugar do arroz apareceu a cana e as codornas não existem mais. Papai, como gostava muito de caça, aplicou outro sistema para caçar passarinhos, com laços feitos de crina da cola do animal. Abria um trilho no meio da roça, com plantação de milho cevando os passarinhos com quirera, arroz com casca e depois armava os laços, conseguindo pegar codornas, nambus, juritis, rolinhas e outros pássaros, passando com isto meses e anos. Em frente a parada de trens, morava o sitiante André Martines onde construiu uma casa e um pequeno armazém de secos e molhados, permanecendo aí alguns anos. Próximo a esse armazém existia uma pequena capela com uma cruz. Nós, moradores do bairro, nos reunimos e construímos uma capela maior, onde foram celebradas muitas missas, várias quermesses e fogos de artifício. Com a renda destas festas, realizamos uma reunião para construção de uma nova igreja, comprando tudo que foi necessário e em pouco tempo a igreja estava concluída. A inauguração da igreja foi uma grande festa, com a celebração de uma missa e quermesse. A nossa família Pezzatto foi a doadora de uma imagem de Nossa Senhora das Graças, cuja imagem permanece até hoje em nosso lar. Mas infelizmente o que construímos com muito amor e carinho durante muitos anos, o padre de Rio das Pedras destruiu. demoliu a igreja construída com muito sacrifício, levando as imagens existentes para a sua paróquia, confinando-as na Capela do Bom Retiro, também em Rio das Pedras. Na Chave do Barão não existe mais nenhuma moradia. Demoliram todas as casas dos colonos e também a sede. A sede era até uma casa confortável. Existe atualmente a escola isolada. O ramal da Estrada de Ferro Sorocabana, que partia de Piracicaba diariamente em nossa frente, da Chave do Barão, não existe mais. Todos os sitiantes vizinhos se mudaram. Atualmente existe somente plantação de cana, de propriedade das grandes usinas da região. Para por um ponto final, acabou-se a Chave do Barão. Quem nos forneceu estes dados preciosos de nossa querida Chave do Barão é uma pessoa nascida lá, Aurora Rissetto, casada com João Padovesi. Todos os anos, o casal vai até lá para ver onde residia, isto é, para ver sua antiga morada, levando em seguida para recordação um tijolo com lembrança. Ao falar deste casal, justamente hoje dia 30/08/90, ambos apareceram em nossa residência em Salto, cuja visita sempre foi de muita alegria, onde residem em Santa Bárbara d'Oeste, justamente na hora em que eu estava escrevendo estas recordações. Moramos na Chave do Barão uns dezoito anos, levando uma vida razoavelmente boa. O movimento com os colonos era cada vez mais fraco, chegando ao ponto de fornecimento de adubo, sementes e outros elementos. A colheita não dava muito lucro e papai dizia que as coisas não iam bem. Famílias grandes para trabalhar na fazenda não apareciam. Na propriedade existia uma grande plantação de laranjas baianas, muito bem tratado, com uns dois mil pés. A colheita das laranjas era uma beleza, o laranjal todo florido, mas infelizmente o preço para venda era muito baixo, não compensava o trabalho dispensado. Papai nunca conseguiu vender uma colheita das mesmas. Continuamos tratando o laranjal por alguns anos e depois foi necessário cortá-lo porque não compensava as despesas. Após o corte do laranjal os colonos plantaram milho e algodão. Havia também uma plantação de abacates em outro local, com várias espécies, onde a colheita era bastante farta mas também não deu resultado. Vários pés de sabará de produção muito saborosa. Essas culturas ao passar do tempo terminaram. Plantamos naquela época uns dois mil pés de eucaliptos, onde conseguimos fazer um corte e papai vendeu para a Estrada de Ferro Sorocabana. Papai gostava muito de animais bons de sela, trazendo um da fazenda São Joaquim, de cor escura e o mesmo serviu na fazenda durante algum tempo. Mas infelizmente, um dia, notei que o animal estava deitado, fui ver de perto o que estava acontecendo, infelizmente, estava morto. Um vizinho tinha um cavalo de cor branca e ofereceu ao papai por um bom preço, comprando o dito cavalo, durante a permanência na Chave do Barão. Na Chave a rotina de trabalho era sempre a mesma e continuamos até o dia que a mesma foi vendida. Partimos deixando para outra pessoa, família Frezarin, da cidade de Santa Bárbara d'Oeste. Mas vamos continuar com mais alguns assuntos. O Luiz ficou morando na São Joaquim. Certa ocasião veio até a Chave do Barão e falou com papai que tinha algumas cabeças de porcos e leitões. Estava para mudar devido o Grupo Escolar da Fazenda São Joaquim não possuir mais alunos para seu funcionamento. Certo dia, fomos buscar os ditos porcos e leitões. Juntamente comigo levei a Enide. Partimos da Chave do Barão as sete horas em carroça. Passamos em Rio das Pedras, Saltinho, venda do Formigueiro, Morro do Juca Amâncio, um trecho da Estrada Passa Cinco, Capelinha, estrada do Serrote, até a venda do Guilherme Baisman, casado com a mana Rita. Lá fizemos uma pequena parada, tomamos café e um lanche e após pegamos a estrada de São Joaquim, chegando pelas quatro horas da tarde. Em seguida desatrelei os animais e os soltei no pasto. Quanto ao retorno na manhã seguinte, recolhi os animais na mangueira mais ou menos onze horas. A carga que ia levar estava presa no chiqueiro, Almoçamos e depois carregamos a porcada na carroça. partimos até a casa da Rita no Serrote, onde eu ia fazer uma pousada, pensando no momento que a distância era longa e tudo estava pronto, devia ser umas duas horas da tarde. Falei com a mana Rita, vou para casa. A estrada mais ruim era até a venda do Formigueiro, o restante era boa. Com a graça de Deus às oito horas da noite cheguei em casa. A minha companheira Enide, ficou na casa dos tios, voltando alguns dias após. Continuamos na Chave do Barão por mais alguns anos, até que um dia apareceu um comprador e realizado o negócio por CR$ 1.300,00 (hum mil e trezentos cruzeiros) naquela época. Os herdeiros receberam suas partes. Mudamos para São Paulo, morando lá poucos meses. Após mudamos para Americana e finalmente estamos residindo em Salto. Papai não gostou de São Paulo e foi morar em Piracicaba com a Nenê, até o final de sua existência. Não posso dizer se falhei em algum assunto. Se deixei de mencionar algum outro aspecto, peço a todos que fiz isso como uma recordação do tempo passado e dos meus oitenta e oito anos. A todos da família, um chau. Antoninho Adendo. Tomo a liberdade como filho, acrescentar, algumas recordações da Chave do Barão. Chave do Barão, propriedade localizada no município de Rio das Pedras, próximo das cidades de Piracicaba, Capivari, Rafard e Mombuca. Esta propriedade era servida pelo ramal da Estrada de Ferro Sorocabana, que saía de Piracicaba a Itaici, com ramais a Campinas e Jundiaí. Todos os moradores da Chave do Barão e vizinhos serviam-se deste meio de transporte com destino a Piracicaba, Rio das Pedras, Capivari e também São Paulo. Naquela época as estradas asfaltadas eram raras. O meio de transporte mais usual era carroça, cavalo, charrete e trole. O trem era o meio de transporte mais usado. Na Chave do Barão existia uma escola isolada até o terceiro ano primário. Os alunos para concluir o quarto ano teriam que ir de trem até Mombuca, distante cinco quilômetros. Eu cursei aquela escola até o terceiro ano cuja professora era Dona Grasiela Ferreira Costa residente em Piracicaba, onde viajava diariamente no trem misto. Completei o quarto ano em Mombuca viajando diariamente de trem. Concluído o quarto ano fiz o curso de admissão ao Ginásio de Capivari, cujo ginásio havia sido instalado naquela ano pela Prefeitura Municipal de Capivari. O primeiro diretor foi o Prof. João Mutto aliás um diretor que me incentivou muito para estudar. Que Deus o tenha em paz. O curso ginasial em Capivari foi muito sacrificado naquela época. No início do curso de admissão e ginasial, fiquei hospedado na casa do amigo da família João Salvego, naquela época gerente das Casas Pernambucanas em Capivari, sendo sua esposa Dona Clarice. Após algum tempo esse casal foi morar em Piracicaba. Durante o curso ginasial eu viajava diariamente da Chave do Barão a Capivari. Naquela época o trem que saía de Piracicaba passava na Chave do barão às quatro e meia da madrugada, voltandos as duas horas da tarde. Minha irmã e minha mãe, revezando, levantavam antes das quatro horas para preparar o leite e o café para eu ir ao ginásio. O nosso empregado Vicente, também colaborou muito comigo e nossa família. Naquela época eu era muito novo, com a idade de 10 a 12 anos e no início eu tinha medo de ir apanhar o trem, na Guarita, por ser muito escuro. O Vicente por muito tempo levou-me até a Guarita. Fiz o curso ginasial e normal na cidade de Capivari viajando e finalmente fiquei na pensão de Dona Hermínia Bonatti. Minha mãe mandava marmita diariamente através do trem. Eu ia apanhar a marmita na estação de Capivari levada pelo chefe de trem. Muitas vezes a marmita extraviava e tinha que comprar outra. Vários colegas meus de Rio das Pedras, Milton Silles de Freitas, José Miori, Zito Purgato este de Mombuca, viajávamos juntos para cursar o ginásio, isto nos anos de 45 a 50. Durante as férias escolares no mês de dezembro, época da colheita das uvas eu ajudava o vovô e o papai na colheita e na fabricação do vinho todos os anos. O nono sempre contente, porque este era o maior prazer de sua vida. Fabricação do vinho do padre "para dizer a missa" slogan que sempre repetia para seus amigos quando os visitava. Da fazenda São Joaquim tenho muito pouca recordação, porque naquela época eu tinha apenas 4 a 5 anos." (Bauru, 20 de novembro de 1990. Pedro Dirmar Pezzatto. Extraído do livro "Uma viagem da Itália para o Brasil", de Antonio João Pezzatto, 1991 - 1a. edição) O mapa abaixo mostra a região em 1925. Não aparece a fazenda São Joaquim, mas aparecem as fazendas Lambari de Baixo, do Meio e de Cima. A chave não está assinalada, mas fica a 5 km de Mombuca.
     
     
     
     
Atualização: 04.10.2015
Página elaborada por Ralph Mennucci Giesbrecht.