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E. F. Central do
Brasil (1914-1975)
RFFSA (1975-1996) |
CORUMATAÍ
Município de Buenópolis, MG |
Linha do Centro - km 914,800 (1928) |
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MG-0416 |
Altitude: 527 m |
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Inauguração: 04.09.1914 |
Uso atual: demolida |
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com trilhos |
Data de construção do
prédio atual: n/d (já demolido) |
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HISTORICO DA LINHA: Primeira
linha a ser construída pela E. F. Dom Pedro II, que a partir de 1889
passou a se chamar E. F. Central do Brasil, era a espinha dorsal de
todo o seu sistema. O primeiro trecho foi entregue em 1858, da estação
Dom Pedro II até Belém (Japeri) e daí subiu a serra das Araras, alcançando
Barra do Piraí em 1864. Daqui a linha seguiria para Minas Gerais,
atingindo Juiz de Fora em 1875. A intenção era atingir o rio São Francisco
e dali partir para Belém do Pará. Depois de passar a leste da futura
Belo Horizonte, atingindo Pedro Leopoldo em 1895, os trilhos atingiram
Pirapora, às margens do São Francisco, em 1910. A ponte ali constrruída
foi pouco usada: a estação de Independência, aberta em 1922 do outro
lado do rio, foi utilizada por pouco tempo. A própria linha do Centro
acabou mudando de direção: entre 1914 e 1926, da estação de Corinto
foi construído um ramal para Montes Claros que acabou se tornando
o final da linha principal, fazendo com que o antigo trecho final
se tornasse o ramal de Pirapora. Em 1948, a linha foi prolongada até
Monte Azul, final da linha onde havia a ligação com a V. F. Leste
Brasileiro que levava o trem até Salvador. Pela linha do Centro passavam
os trens para São Paulo (até 1998) até Barra do Piraí, e para Belo
Horizonte (até 1980) até Joaquim Murtinho, estações onde tomavam os
respectivos ramais para essas cidades. Antes desta última, porém,
havia mudança de bitola, de 1m60 para métrica, na estação de Conselheiro
Lafayete. Na baixada fluminense andam até hoje os trens de subúrbio.
Entre Japeri e Barra Mansa havia o "Barrinha", até 1996, e finalmente,
entre Montes Claros e Monte Azul esses trens sobreviveram até 1996,
restos do antigo trem que ia para a Bahia. Em resumo, a linha inteira
ainda existe... para trens cargueiros. |
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A ESTAÇÃO: A estação
de Corumataí foi inaugurada em 1914. Já foi demolida.
"Corumataí, estaçãozinha na qual eu,
menino, desembarcava, foi demolida. Dela acho que apenas eu tenho
saudades, por isso redigi um artigo emocional, que publiquei alhures,
e passo a transmitir: Eu menino. Lembro-me bem do "trem de ferro".
Sou da era "diesel", locomotiva azul e amarela com buzina
grave de navio. Trem da "Central", vagões de madeira,
"primeira", "segunda", "leito". Eu embarcava
aqui com meu avô ,"seu" João Paculdino, industrial
abastado, senhor feudal tardio dos sertões do meio caminho
de Montes Claros, homem de bons bofes e maus filhos. Gente chique
na estação a atravessar o portão principal de
ferro fundido, ainda vejo com olhos úmidos as minhas pegadas
miúdas no ladrilho gasto, chão sagrado, repisado pelos
meus anteriores. "Carro leito" maravilhoso, os beliches
e lençóis alvíssimos, apenas isolados do corredor
pelas cortinas douradas. Eu já reparava as passageiras que
se esforçavam para alçarem-se ao leito superior, expondo-me,
criança, as coxas. Do lado de cá, civilização,
mulheres, cigarros e farofa de galinha, do outro lado da janela intransponível,
a selva e as feras imaginárias, com suas mandíbulas
arreganhadas. Vindo de baixo, o ruído rítmico das rodas
a passar de um trilho para outro, e o ruído entrecortado das
intercessões de linha. Em ponto desconhecido iniciavam-se postes
de luz, fraquinhas, que alumiavam lugubremente um pequeno círculo
ao chão, mas que anunciavam o ponto divisor dos trilhos, Corinto,
cidade ferroviária deste tamaninho. à direita, Diamantina,
à esquerda, Pirapora, a meu ver, lugares distantes e desconhecidos,
desinteressantes, à frente o estreito caminho da plenitude.
De madrugada o fim da viagem, o "F-600" soltando vapor pela
descarga enquanto nos espera, ruído lindo do motor V8 em marcha
lenta, amalgamado com o outro, severo, da locomotiva estanque. Eu
ouvia o assobio seqüencial das válvulas de alívio
dos freios, hoje silenciosas, mas que ainda me ferem os ouvidos. Então
descia. Estação de Curumataí, pequenininha e
linda, telégrafo batendo em frenesi, gente interessante entrando
e saindo, sino pendurado do lado de fora 'chamando' o trem. Insensíveis,
tristes filhos de Toval Sampaio, derrubaram o entrave ao movimento
dos seus bois, derrubaram a estaçãozinha de Curumataí.
Sequer removeram os escombros, insepultos que ficaram pelos arrabaldes.
Pois bem, imagino a vida pós morte não como a proximidade
de Deus, mas com uma mobilidade pelo tempo viabilizadora da realização
dos sonhos e do fim da saudade, mobilidade capaz de voltar-me aos
anos da aurora da minha vida, para sentir os sons do trem.... e o
cheiro do 'óleo diesel' mal queimado misturado com o da manga
espada dos quintais do Coronel Toval. Da minha infância querida,
que os anos não trazem mais" (Reinaldo Faria Tavares,
Belo Horizonte, dezembro de 2002). A estação fica
do outro lado da pista no trevo de Santa Bárbara.
(Fontes: Décio Marques, 2006; Reinaldo F. Tavares,
2004; Max Vasconcellos: Vias Brasileiras de Comunicação,
1928) |
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A estação, provavelmente nos anos 1950. Autor
desconhecido |
Em 12/2003, restava apenas a plataforma. Foto Décio Marques |
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Atualização:
27.05.2014
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