A ESTAÇÃO: A estação de Tatu
foi inaugurada em 1876 e tinha, após a eletrificação da
linha em 1920, uma subestação perto dela, sendo portanto ponto estratégico
para a Paulista.
Durante muitos anos, uma linha de bitola de 60 cm correu de Tatu
até a pedreira ali existente, da CP, em boa parte do percurso paralelamente
à linha principal. Decauvilles iam e vinham do lado oeste
da linha, operando pelo sistema de caixas baldeáveis. No início
dos anos 1970 ainda era possível se ver essa pequena ferrovia.
Batista Batistella, morador da casa mais bonita da vila, é quem
fala (09/2000): "Mudamos para cá em 1935, quando eu era moleque.
Meu pai comprou a casa de um espanhol, que havia acabado de construí-la:
aí, a mulher dele morreu, ele ficou desgostoso e foi embora. Meu
pai era dono da fazenda aí na frente, depois vendeu. Ele morreu
e eu fiquei morando aqui. Tatu era muito mais bonito, a ferrovia
tinha vários armazéns que hoje estão fechados ou invadidos. As passagens
de nível funcionavam com ferrolho automático, e fechavam ou abriam
com a aproximação do trem. A área da estação e da linha eram cercadas
com arame, era tudo bem cuidado. Às vezes, eu e meus amigos
íamos brincar na estação, passando a cerca; aí, mexíamos em alguma
coisa, e à noite, vinha uma carta de reclamação do chefe da estação
para os nossos pais. Aqui em Tatu existiam várias fábricas de facas
e de canivetes; hoje, tem só uma ou duas. Outro dia, mudou-se para
um armazém um sujeito que dizia que era da ferrovia, e começou a
juntar tudo que era de ferro, tirar coisas da linha e dos vagões;
ele levava tudo para a cidade para vender como ferro-velho. Aí veio
a polícia e o pegou, levando-o preso. Esses vagões, que estão ali
nos desvios, estão ainda cheios dessa sucata".
Outro relato é de Rodrigo Cabredo, em 1999: "Eu me lembro
da minha primeira viagem de trem que eu fiz sozinho, quando eu inocentemente
comprei uma passagem de acordo com o dinheiro que eu tinha que,
pelos meus cálculos, dava para ir até Tatu, e eu nem sabia como
era ali. Então, peguei o trem das 8:05 que saía da Luz e quando
cheguei em Tatu fiquei desolado porque não era uma cidade e sim
uma vila ferroviária, então fiquei quietinho no trem e só desci
em Limeira. Ah, que saudades das intermináveis conversas com os
ferroviários velhinhos que me contavam as velhas e boas histórias
da Paulista, quanta coisa foi vivida... A mobilização para se preservar
um trecho da ferrovia era
evidente".
Um relato mais recente, de Júlio Cezar de Paiva, em 15/10/2000:
"Enquanto fotografava a estação, um grupo de 5 crianças ficou
à minha volta perguntando tudo. Perguntei sobre se já havia passado
algum trem hoje e eles afirmaram que por volta das 9h30 passou um
com destino a Limeira e que que por volta das 11h30 passaria outro
com destino a Campinas. Não deu outra. As 11h50 lá vem 03 Dash-9
apitando adoidado, que belo apito, puxando 80 vagões de alumínio.
Fotografei velhos vagões de carga e serviço na beira da linha. A
cabine de controle da antiga CP ainda esta lá com aquele montão
de alavancas. Não deu para subir no piso superior porque não ha
piso, ruiu. Segundo a molecada, os trens de passageiros passam por
Tatu e para se pegar o trem e só levantar a mão que o trem para.
Que nem ônibus. Segundo um dos moleques, o pai dele afugentou um
bando de vagabundos que morava na estação na base do revólver. Um
dos vagabundos até urinou nas calças (imagino) e nunca mais voltaram.
Dá até para acreditar, pois encontrei no interior da estação, além
das costumeiras fezes, uma panela cheia de arroz e outra com feijão
semi prontas. A gota d'agua, foi o fogo que eles estavam fazendo
com parte das janelas da estação. Radical mas deu uma sobrevida
a estação".
Em 03/07/1996, quando lá estive, a estação estava fechada. Em 30/09/2000,
nova visita: a estação estava aberta, depredada, abandonada, pichada.
Várias casas e armazéns estavam servindo de moradia, algumas estão
simplesmente fechadas.
Em 2018, a estação continuava mais morta do que nunca,
mas em pé e recentemente restaurada. Não sei se estava
sendo usada para alguma coisa. Em 2019, a estrada de acesso da rodovia Anhanguera a Tatu estava já asfaltada.
Em 2023, o abandono - parecia manter-se, embora o outro lado do prédio estivesse sem pichações.
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AQUI PARA VISUALIZAR A ESTAÇÃO VISTA DO SATELITE
(gentileza Antonio Carlos Mussio)
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1875
AO LADO: Concorrencia pública para a construção de três estações: Limeira, Tatu e Rio Claro (A Provincia de
S. Paulo,08/01/1879). |
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1879
AO LADO: Desmoronamentos fazem o maquinista pular do trem em Tatu, mas sem gandes acidentes (A Provincia de
S. Paulo, 08/01/1879). |
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1884
AO LADO: Problemas com o correio na estação (A Provincia de
S. Paulo, 15/7/1884). |
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1886
AO LADO: Problemas com o correio na estação (A Provincia de
S. Paulo, 10/4/1886). |
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1889
AO LADO: Atropelamento entre as estaçõesd de Tatu e de Santa Barbara (Americana) estação (A Provincia de
S. Paulo, 9/5/1889). |
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1927
AO LADO: Problemas com o correio no bairro (O Estado de
S. Paulo, 28/12/1927).
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ACIMA: Trem de passageiros da FEPASA em Tatu,
c. 1975 (Foto Roque Batista).
ACIMA: A estação de Tatu,
c. 2023 (Foto Leonarto Patara em 15/04/2023).
(Fontes: Ralph M. Giesbrecht, pesquisa local, 1996 e 2005;Leonardo Patara, 2023; Roque Batista, 1975;
Antonio Carlos Mussio; Júlio Cesar de Paiva, 2000; Rodney Berto, 2009;
Douglas Leão Kerche de Camargo; Rodrigo Cabredo; Batista Batistella;
Antonio A. Gorni; Wanderley Zago, 1993; Jefferson Conti; Filemon Peres;
O Estado de S. Paulo, 1927; Cia. Paulista: Relatórios anuais,
1872-1969; Mapas - acervo R. M. Giesbrecht)
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