A B C D E
F G H I JK
L M N O P
Q R S T U
VXY Mogiana em MG
Linha da E. F. Goiaz
...
Roncador
Pires do Rio
Soldado Esteves
...

IBGE - 1957
...
ESTIVE NO LOCAL: NÃO
ESTIVE NA ESTAÇÃO: NÃO
ÚLTIMA VEZ: N/D
...
 
E. F. Goiaz (1922-1965)
V. F. Centro Oeste (1965-1975)
RFFSA (1975-1996)
PIRES DO RIO
Município de Pires do Rio, GO
Linha-tronco - km 218,123 (1960)   GO-3321
Altitude: 747 m   Inauguração: 09.11.1922
Uso atual: desconhecido (2019)   com trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
 
HISTORICO DA LINHA: A linha-tronco da E. F. Goiaz foi aberta a partir de Araguari, onde já estavam os trilhos da Mogiana desde o ano de 1896, em seu primeiro trecho em 1911, até a ponte sobre o rio Paranaíba, na divisa entre os Estados de Minas Gerais e Goiás. A partir de então, foi aquela demora de sempre: avançando lentamente, atingiu Goiânia, capital do Estado de Goiás desde o início dos anos 1940, somente em 1950, e alguns anos mais tarde a linha foi prolongada em dois quilômetros até Campinas de Goiás. Aí parou. Com a entrada em operação da linha para Brasilia, a partir da estação de Roncador, o trecho até Goiânia perdeu em importância. Hoje boa parte da linha está em operação para trens cargueiros: trens de passageiros acabaram nos anos 1980.
 
A ESTAÇÃO: A estação de Pires do Rio foi inaugurada em 1922. A estação já se chamou Rio Corumbá, nome que permaneceu por pouco tempo.

O nome da estação foi uma homenagem ao então Ministro da Viação José Pires do Rio, que esteve pessoalmente empenhado na continuação das obras da ferrovia, superando as inúmeras dificuldades do período pós 1ª Guerra Mundial. 

A estação deu origem à atual cidade de Pires do Rio.

Em 9 de fevereiro de 1927, a cidade foi atacada pelos resquícios da Coluna Prestes, que saqueou as famílias mais abastadas, metralhou a caixa d'água, tendo inclusive amarrado o chefe da estação, Cyrillo Reis, no marco da cidade. Ele seria metralhado caso tivesse conseguido telegrafar para a estação de Tavares (Vianópolis) retendo o trem de passageiros P-2, também um alvo do saque.

"Em meio a estas distâncias as necessidades de controle do tráfego, mesmo incipientes, impunham a instalações de estações. Nestas se instalaram pátios de manobras, aparelhagem telegráfica e uma ou mais residências para funcionários, com destaque do chefe das instalações. Estas estações recebiam nomes geralmente escolhidos pela própria direção da ferrovia. Muitos deles de origem indígena, muito eufônicos: Içá, Inajá, Tapiocanga, Ubatan, Caraíba, Caturama. Para a estação erguida junto ao povoado da Rua do Fogo, o nome se escolheu como homenagem. Adotou-se o patronímico de um homem que a mereceu por toda a sua vida, e que era, na oportunidade, o Ministro da Viação: José Pires do Rio. Correspondeu a escolha a um ato de gratidão por quem, do alto posto que honrava, via com realismo toda a extensão do território nacional. Construir ferrovia no deserto, podia-se prever, era um empreendimento por si mesmo deficitário. Que contaria, como contou, com a oposição de financistas de visão estreita, imediatista. José Pires do Rio, com os olhos postos no futuro, viu além do imediato. Interessou-se pessoalmente pela retomada da construção da Estrada de Ferro de Goiás. Cultura poliforme, inteligência brilhante voltada com interesse para as realidades nacionais que conhecia profundamente, dedicou-se à sua definição com empenho. Embora os registros que encontramos se refiram a uma só de suas viagens a Goiás, depoimentos diversos nos informaram que essas viagens foram três. Viagens que importavam no desconforto de penosas jornadas sertão a dentro. Ao despejar sobre as obras da ferrovia em andamento sua energia moça e experimentada, o Ministro não apenas criou condições para o erguimento de uma cidade. Conquistou o Estado de Goiás para o Brasil, em termos efetivos de verdadeira ocupação econômica (Wilson Cavalcanti Nogueira, Pires do Rio - Um Marco na História de Goiás, p. 53)".

"Em 1981, no mês de junho, em companhia do meu pai, viajei de Goiânia (ainda em pleno funcionamento) até Pires do Rio num trajeto de cerca de 220 km em inesquecíveis 7 horas de viagem em vagão de 2ª classe, pois as passagens do de 1ª classe haviam se esgotado! Hoje ficou a saudade..." (Alessander Palacios, 3/12/2010).

Desativada nos anos 1980 e depois ameaçada de demolição nos anos 1980, a estação foi tombada estadualmente graças às manifestações populares e transformada num museu com vários objetos ligados à EFG, além da locomotiva a vapor nº 246 e a locomotiva nº 2 do 2º Batalhão Ferroviário (a Mafra), que ficou esquecida por longos anos na praça do Mercado. O museu ferroviário funciona nos antigos prédios da oficina na estação. A estação, restaurada, não conheço o uso em 2019.

Coordenadas da estação: 17°17'51.39"S 48°16'31.80"W


"Percebendo desde logo o que estava acontecendo, Cyrillo tentou se comunicar pelo telégrafo com a estação de Tapiocanga, tentando reter lá o trem de passageiros."(...) "Naquele dia o P-2 não chegou no horário. Uma coisa que naquele tempo não costumava acontecer. Passaram-se os primeiros minutos de atraso. Siqueira Campos, irritado, retornou à sala da chefia, onde Cyrillo se encontrava sob a vigilância de alguns dos revoltosos. Dialogou nervosamente com um de seus companheiros mais graduados. Do diálogo agitado, e rápido, Cyrillo ouviu alguma coisa. O bastante para saber a conclusão do debate, que aliás lhe foi logo a seguir comunicada: -Chefe, tudo indica que você conseguiu telegrafar, retendo o trem. Com isso você se tornou um traidor de nossa causa... Fez uma pausa e continuou, ríspido: -Vamos ainda lhe dar um prazo: se até as nove horas o trem não chegar, fique certo, você será fuzilado junto àquele marco de fundação da cidade. (...) Os minutos se passaram, morosos, como horas, carregados de angústia. Ninguém mais ousava sequer falar. Com medo de provocar a precipitação dos acontecimentos. De repente, sem o costumeiro apito anunciador de chegada, trafegando a meia velocidade, apareceu na curva norte dos trilhos uma coluna de fumaça. Depois se ouviu o som resfolegante do trem atrasado. Foi um alívio, marcado por gritos e risadas nervosas e abraços que se repetiam. Mas o espetáculo não havia terminado. Continuava com o trem, já na reta de chegada, em marcha lenta. Das janelas dos carros de passageiros viam-se malas e objetos diversos sendo atirados para fora, para escapar do saque. Parado o trem na plataforma, todas as saídas dos carros de passageiros foram bloqueadas pelos homens de Siqueira. Os passageiros receberam instruções para sair de um a um." (...) A locomotiva da composição era a 301. Estava sendo operada por um dos mais conhecidos maquinistas da ferrovia, o português Manoel Parada. O chefe de trem, Joaquim Mesquita, era um dos mais estimados de quantos serviam à estrada. Esvasiados os carros de passageiros, os revoltosos se dirigiram à locomotiva, uma das mais belas e eficientes transportadoras de passageiros da ferrovia. O cofre do chefe de trem, situado no "breque", foi arrombado. Do dinheiro que nele existia os revoltosos se apoderaram. O leito ferroviário, ao sul, estava interrompido. Pouco antes, e obrigados pelos revoltosos a coices de armas, uns cinqüenta populares haviam empurrado, até o quilômetro 216, aproximadamente, uma gaiola carregada de rolos de fumo em corda. Á frente dela os trilhos tinham sido arrancados em boa extensão. A 301, muito bem conservada, brilhando ao sol, foi lançada a pleno vapor no declive que a conduziria ao pavoroso impacto, sem maquinista para controlar-lhe o impulso corredor. Acompanhavam-na, vazios de gente, o "breque", um vagão de carga e dois carros de passageiros. O impacto soou como um trovão. Com tamanha violência que a locomotiva foi atirada a quase vinte metros dos trilhos, enterrando-se parcialmente no chão. Os rolos de fumo da gaiola que servira de obstáculo se espalharam num raio de mais de meia centena de metros, de mistura com pedaços da própria gaiola. Era o produto de toda uma safra de compras feitas na região pelos industriais então afamados no ramo, os Pachola, de Uberaba. Enquanto o trem corria para sua destruição, uma metralhadora, postada em um dos pilares da plataforma da estação, cuspiu sucessivas rajadas. Perfurando totalmente a caixa d'água que abastecia as locomotivas, inutilizou-a toda. E a insânia destruidora não terminou aí. Voltando à sala da chefia de estação e dela passando para a saleta contígua, onde se encontrava instalado o aparelho transmissor-receptor de telegrafia, Siqueira ditou a Cyrillo Reis um telegrama, que foi imediatamente convertido por este em pulsos elétricos: "Major Grimoaldo Teixeira Fávila - Comandante 6º BC - Ipameri - No momento em que prendo o trem P-2, no qual sigo para a Bolívia, peço transmitir presidente da República votos feliz administração sua vasta senzala. SDS Coronel Siqueira Campos Comandante do 3º Batalhão Independente da Coluna Prestes - Pires do Rio 9 de fevereiro de 1927 9 horas da manhã" O chefe dos revoltosos (...) encheu o peito de ar e ordenou, forte e seco: - O saque! Tão definido e enérgico quanto a ordem, o saque se cumpriu. Os pobres da periferia da cidade foram buscados por grupos volantes de revoltosos e obrigados a participar dele. Um furacão varreu todas as "vendas" da cidade. As mercadorias foram retiradas das prateleiras, para serem atiradas à rua ou para serem colocadas sobre os ombros da pobreza arrebanhada, inteiramente atônita. No burburinho do saque, feito às pressas, muita coisa escapou à capacidade de transporte dos que deviam levá-la. As ruas ficaram assim, cheias de coisas abandonadas." (...) Siqueira destacou outro comandado seu para dar cumprimento a uma nova ordem: escrever, na parede de frente da plataforma da estação, o nome que dava à cidade naquele instante: PRESTES. O letreiro foi desenhado com tinta preta, em traços de um decímetro de largura, tendo a altura aproximada de um metro e meio. (...) A tentativa de retenção do P-2, feita por Cyrillo Reis, pela manhã, não fora de todo improfícua (...) Araguari detectara a mensagem. E a retransmitira a Ipameri, onde uma força da polícia mineira estava aquartelada para dar combate aos revoltosos. Demorou esta a se pôr em marcha. Precisou providenciar equipamento bélico que lhe faltava e que logo lhe foi colocado à disposição. Deixou Ipameri por trem especial, que avançou em marcha lenta e cautelosa. Na altura do quilômetro 216, onde os trilhos estavam interrompidos, o trem parou. Os soldados, infantes que eram, tiveram de romper a pé os dois quilômetros que ainda os separavam da cidade. Piquetes patrulheiros revoltosos, que se encontravam escondidos no cerrado ali perto, a cavalo, fizeram repetidos disparos de suas armas. (...) Na estação o comandante revoltoso entendeu imediatamente o aviso. Voltou-se para Cyrillo Reis: -Estão chegando os bernardescos. Dei-lhes aqui uma boa lição. Agora já podemos ir embora. Em Tavares vou esperá-los. (...) A borrasca passou. Os ventos amainaram tão depressa como se haviam formado. A cidade voltou à sua vida comum. Moça alguma tinha sido estuprada, criança alguma tinha sido espetada em baioneta. Não houve morte alguma a registrar. De tudo só ficara o gosto amargo da ruína econômica, o desmantelamento da ordem, o estrangulamento das oportunidades de ganhar a vida e nela prosperar."

c. 1924
AO LADO:
O texto versa sobre o ataque à cidade feita pela Coluna Prtestes, no final dos anos 1920 (fonte desconhecida).

ACIMA: A estação de Pires do Rio em 2019 (Publicada no Correio Braziliense, 31/7/2019).

(Fontes: Roberto Fonseca Dias; Glaucio Henrique Chaves; Adão Pereira; Flavio Cavalcanti; Fernando Schmidt; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960; IBGE: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, 1957; Wilson Cavalcanti Nogueira: Pires do Rio - Um Marco na História de Goiás; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960)
     


Estação de Pires do Rio em 1931. Autor desconhecido


A estação de Pires do Rio por volta de 1985. Foto Adão Pereira, cessão Flavio Cavalcanti

A oficina da ferrovia em Pires do Rio por volta de 1985. Foto Adão Pereira, cessão Flavio Cavalcanti

A estação em 20/07/2001. Foto Fernando Schmidt

A estação em 2003. Autor desconhecido

A estação em 07/2006. Foto Roberto Fonseca Dias

A estação restaurada, em 4/2010. Foto Glaucio Henrique Chaves

A oficina, agora museu, em 4/2010. Foto Glaucio Henrique Chaves
 
     
Atualização: 31.07.2019
Página elaborada por Ralph Mennucci Giesbrecht.