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Cia. E. F. Barão
de Araruama (1879-1890)
E. F. Leopoldina (1890-1966/7) |
MACABUZINHO
(antiga PACIÊNCIA)
Município de Conceição
de Macabu, RJ |
Ramal de Santa Maria Madalena - km 280,742
(1960) |
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RJ-1874 |
Altitude: 18 m |
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Inauguração: 23.01.1879 |
Uso atual: demolida |
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sem trilhos |
Data de construção do
prédio atual: n/d (já demolido) |
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HISTORICO DA LINHA: O ramal que
ligava Entroncamento (Conde de Araruama) a Ventania (Trajano de Morais)
teve a linha entregue em 1878 até Conceição e no ano seguinte até
Triunfo (Itapuá) e Ventania, pela E. F. Barão de Araruama. Somente
em 1896, já com as linhas de posse da Leopoldina, foi entregue a continuação
até Visconde do Imbé e em 1897 a Manoel de Morais. Antes disso, em
1891, o engenheiro Ambrosino Gomes Calaça havia aberto uma linha entre
Ventania e Santa Maria Madalena, estabelecendo outro ramal. Logo após
a inauguração, a linha foi vendida À E. F. Santa Maria Madalena, e
em 1907 à Leopoldina. Dependendo da época, a linha principal era Conde
de Araruama-Madalena, ou Conde de Araruama-Manoel de Morais, com o
outro trecho sendo o ramal, ou seja, passando por baldeação ou espera
em Trajano de Morais. Em 31/08/1965, o trecho a partir de Triunfo
foi suprimido para trens de passageiros, ou seja, o entroncamento
de Trajano de Morais já não era alcançado. Em
1966 ou 1967, o que restava do ramal acabou de vez. Ficou, entretanto,
o trecho entre Conde de Araruama e Conceição de Macabu
ainda funcionando para a Usina Victor Sence, até o início
dos anos 1990. Com a sua desativação, os trilhos foram
arrancados. |
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A ESTAÇÃO: A estação
de Paciência foi inaugurada em 1879, ainda pela E.
F. Barão de Araruama, que foi vendida à Leopoldina
em 1890.
Era assim nos anos 1920: "Fui comissionado para fazer
o levantamento topográfico da zona contestada, com o fim de encontrar
uma divisa natural. Eu devia começar meu trabalho levantando o rio
Imbé que, depois de descer a serra, serpeja pela baixada alagadiça
de Conceição de Macabu-Campos, semeando febres, disenteria e morte.
Meu estudo começaria na estação de Paciência. Tomei o trem em Niterói
e me toquei para Paciência. A viagem, na Baixada Fluminense, era um
flagelo, mormente no verão: calor e poeira. Saí de manhã e, pelas
quatro e tanto, o condutor anunciou a estação de Paciência, recolhendo
os bilhetes; saltamos, e o trem partiu, em menos de um minuto. A estação
não passava de um ponto de lenha para alimentar as "marias-fumaças"
da Leopoldina. Não se via uma única casa. De um lado o brejo indefinido
do Imbé, do outro umas elevações do terreno, cobertas de capim seco,
uns bois pastando e nada mais. Eu, suando como um cavalo de corrida, me senti perdido. O agente
da estação, um pobre pária, com mulher e três filhos impaludados,
me informou que só o Zezinho, tirador de lenha, poderia me valer,
e apontou-me o barraco, na crista do barranco da pequena esplanada.
Ele, Zezinho, ao escurecer chegaria, tangendo seu carro de boi carregado
de lenha. Sentei-me. O mormaço abafava. Fome e sede. Fumei meio maço
de cigarros até ouvir o chiado do carro de duas juntas de bois, abarrotado
de lenha. O agente chamou o Zezinho, me apresentou, e eu disse-lhe
da missão e da ajuda que necessitava (...)
Só me faltavam uns dois
dias de trabalho para findar a tarefa e voltar para o Rio de Janeiro.
Chegando em Paciência, surpreendeu-me um facho de luz resplandecente
que iluminava mais de um quilômetro de comprimento. Era a locomotiva
do trem de lenha que estava carregando suas dez pranchas. Uma festa
para o Zezinho. Chegando, aproximei-me do pátio de carga e uns tantos
homens, empilhando lenha nas pranchas: fiscal, encarregado, maquinista,
guarda-freios, todos a conversar com o Zezinho. Este, ao me ver, gritou:
- Eh, doutor, hoje tem boa janta e cerveja gelada. O trem veio buscar
lenha. A comida será depois de toda a lenha carregada. Daqui a umas
duas horas. Eu também fiquei alegre: caras novas, o pessoal da composição
traria certamente novidades. Havia dez dias que eu estava naquele
ermo danado. Chegou a hora da janta. Um pequeno banquete que todos
os fornecedores de lenha ou dormentes preparavam para as autoridades,
captando-lhes a simpatia, para evitar impugnações ou refugo das peças
defeituosas. O que me agradou foi a leitoa assada e a cerveja gelada.
Zezinho vendia satisfação.
No dia seguinte, com o certificado de embarque
de lenha, ia entrar no dinheiro. A Leopoldina, no tempo dos ingleses,
era boa pagadora. Quando estamos chegando ao fim da comedoria, Zezinho
volta-se para mim e diz: - Doutor, prepare-se que vamos no trem para
Campos entregar a lenha. - Ora, Zezinho. Estou cansado e devo terminar o meu serviço amanhã, se Deus quiser, e pegar o expresso
para o Rio depois de amanhã. - Doutor, são dez e meia da noite. Dentro
de vinte minutos vamos embarcar. Arrume-se que o senhor vai comigo.
Voltamos depois de amanhã de tarde, no expresso em que o senhor chegou.
- Zezinho, muito obrigado pelo convite. Prefiro ficar. - Doutor, já
disse que o senhor vai comigo. O senhor pensa que eu sou besta, deixar
minha mulher bonita, sozinha com o senhor! Fui a Campos e viajei quatro
horas, sentado num monte de lenha; cheguei quase morto de cansaço
e com fagulhas de lenha por todo o corpo" (Luiz Serafim
Derenzi, Caminhos Percorridos, http://gazetaonline.globo.com/ estacaocapixaba).
Nos anos 1950, a população do distrito de Macabuzinho era de 939 pessoas.
Em 1962 não havia mais, como na narrativa acima, trens diretos
de Niterói para a antiga Paciência: saindo
às 6:15 da manhã, chegávamos a Conde de Araruama às 12:45, para esperar o trem que saía de lá
às 13:35 e chegava a Macabuzinho, como a estação
fora renomeada nos anos 1940, às 14:12.
A estação
foi desativada em 31/05/1966(7), com a supressão do trecho
entre Conde de Araruama e Triunfo.
Segundo Marcelo
Abreu Gomes, de Conceição de Macabu, RJ,
a estação foi demolida nos anos 1970.
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1896
À
ESQUERDA: A estação de Paciência, atual Macabuzinho, localizava-se
no município de Macaé, quando esse selo circulou (1896) no Estado
do Rio de Janeiro. Permutava malas postais diariamente com o
Distrito Federal e com as agências-estações de Triunfo, Trajano
de Moraes e Leitão da Cunha. A mala expedida pelo Distrito Federal
seguia pelas barcas da Companhia Leopoldina até Maruí, e daí,
pela estrada de ferro da mesma companhia (Leopoldina, Linha
do Litoral) até a estação Conde de Araruama, de onde seguia,
pelo ramal de Barão de Araruama, atual ramal de Santa Maria
Madalena, ao destino. A outra estação com a mesma denominação
(Paciência), pertencia à EFCB, ramal de Mangaratiba e
foi inaugurada em 1897. Hoje esta é uma das estações
de trens metropolitanos da Supervia (Márcio Protzner, 28/4/2009). |
ACIMA: Mapa dos anos 1950 mostrando parte do município
de Conceição de Macabu e a ferrovia (IBGE: Enciclopédia
dos Municípios Brasileiros, vol. VI, 1958).
(Fontes: Ricardo Quintero de Mattos, 2009; Marcelo
Abreu Gomes; Márcio Protzner, 2009; Luiz Serafim Derenzi: Caminhos
Percorridos; Edmundo Siqueira: Resumo Histórico da Leopoldina
Railway, 1938; http://gazetaonline.globo.com/estacaocapixaba; Guias
Levi, 1932-79; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960; Mapa
- acervo R. M. Giesbrecht) |
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A estação, ao fundo, com a família posando
em primeiro plano. Foto sem data, cedida por Marcelo Abreu Gomes |
Plataforma da estação. O coreto tomou o lugar
do antigo prédio. Foto Ricardo Quintero de Mattos em
7/2009 |
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Atualização:
29.11.2022
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