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Guatapará
Guarani-nova
Pradópolis
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Tronco CP-1935
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ESTIVE NO LOCAL: SIM
ESTIVE NA ESTAÇÃO: SIM
ÚLTIMA VEZ: 1998
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Cia. Paulista de
Estradas de Ferro (1930-1971)
FEPASA (1971-1998) |
GUARANI-NOVA
Município de Guatapará, SP |
Linha-tronco - km 306,505 (1958) |
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SP-3306 |
Altitude: 527,310 m |
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Inauguração: 1930 |
Uso atual: demolida |
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com trilhos |
Data de construção do
prédio atual: n/d (já demolido) |
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HISTORICO DA LINHA: A linha-tronco
da Cia. Paulista foi aberta com seu primeiro trecho, Jundiaí-Campinas,
em 1872. A partir daí, foi prolongada até Rio Claro, em 1876, e depois
continuou com a aquisição da E. F. Rio-Clarense, em 1892. Prosseguiu
por sua linha, depois de expandi-la para bitola larga, até São Carlos
(1922) e Rincão (1928). Com a compra da seção leste da São Paulo-Goiaz
(1927), expandiu a bitola larga por suas linhas, atravessando o rio
Mogi-Guaçu até Passagem, e cruzando-o de volta até Bebedouro (1929),
chegando finalmente a Colômbia, no rio Grande (1930), onde estacionou.
Em 1971, a FEPASA passou a controlar a linha. Trens de passageiros
trafegaram pela linha até março de 2001, nos últimos
anos apenas no trecho Campinas-Araraquara. |
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A ESTAÇÃO: A estação de
Guarani-nova foi aberta em 1930, para atender
a colônia existente no horto florestal do mesmo
nome, pertencente à Companhia Paulista.
A estação antiga, original, foi desativada na
mesma época, posto que, na mudança da linha-tronco
da Paulista quando de seu alargamento de bitola métrica
para larga, esta mudou seu curso da margem esquerda para a
margem direita do rio Mogi-Guaçu. A estação
de Guarani, que fazia parte do antigo ramal do Mogi-Guaçu,
foi a única das estações originais deste
ramal que não foi aproveitada na linha-tronco nova,
por causa de condições de construção
de uma variante. Nos anos 1940, aventou-se de sair daqui o ramal de Ribeirão Preto, que a Cia. Paulista
planejava construir para chegar diretamente àquela
cidade, projeto este abandonado.
"Meu avô, ferroviário
da Cia. Paulista, foi trabalhar no horto de Guarani, junto
à estação do mesmo nome, no início
dos anos 1960. Eu morava em Ribeirão e era moleque,
e costumava ir com ele e minha mãe com ele até
lá. Saíamos de Ribeirão pelo ramal de
Guatapará, da Mogiana, onde descíamos em Mendonças.
Daí tomávamos uma carroça até
Guarani. As duas estações eram muito próximas
em linha reta, embora em ramais diferentes. Ficávamos
ali o dia inteiro; no final do dia, tomávamos o trem
da Paulista até Barrinha, onde passávamos para
o ônibus que nos levava a Ribeirão"
(Dirceu Baldo, 08/2002).
"Conheci o Horto Florestal
do Guarani em seu apogeu, anos de 1946 a 1955, quando
meu tio, engenheiro agrônomo Dr. Léo Gomes de Moraes era o superintendente
de vários hortos da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Era grande
propriedade autossuficiente com extensos eucaliptais e também outras
culturas e gado para o numeroso contingente de trabalhadores rurais
que habitavam suas bem ordenadas colônias. Tinha todo tipo de benfeitoria
e até um gabinete dentário, tudo girando em torno da linha tronco
e da estação da Paulista que atravessava o domínio. Viveiros de eucaliptos
e outras culturas vicejavam em água abundante de seus córregos. Flamboyants
enfeitavam suas alamedas até o jardim em torno da casa sede, com caprichosos
canteiros e cercados de cedrinho. Acompanhei sua decadência, que pode
ser resumida do seguinte modo: trinta anos de negligência por parte
da Fepasa; invasão pelo movimento dos sem-terra, sem reaçãode seus proprietários, o governo do Estado de São Paulo na
época; o incêndio proposital de todas as benfeitorias (noticiado pela
imprensa de Ribeirão Preto), sem consequências; o saque de toda sua
madeira de eucaliptais ainda produtivos, seguido da distribuição da
terra para assentamento. Agora não passava de terra arrasada. Muita
gente deve ter lucrado com este desmonte. Não foram certamente esses
trabalhadores que hoje lá se encontram enganados e esperando ajuda
de autoridades irresponsáveis. É mais um exemplo do defeito de caráter
do brasileiro que não vacila em por no chão o que já existe. Tivesse
o horto do Guarani sido desenvolvido naturalmente na direção em que
prosperava, talvez tivéssemos hoje uma pujante vila rural, uma espécie
de kibutz caboclo ou mesmo pequena e acolhedora cidade" (Jornal
A Cidade - sem data conhecida - texto enviado por Cássio Ruas
de Moraes em 10/3/2014).
O mesmo Cássio, citado no parágrafo logo acima a este, passando de
trem por ali em 1990-91, testemunhou casualmente a demolição
do prédio da estação, provando que já
faz um bom tempo que o prédio desapareceu. A estação foi demolida, provavelmente
durante os anos 1980, sobrando apenas o seu grande armazém,
também abandonado e depredado.
(Veja também GUARANI-VELHA)
!"Era
o paraíso das minhas férias escolares. Na varanda da frente
da casa esperava com impaciência que a chuva passasse. Descia
alguns degraus e parava no caminho de terra arenosa, observando
os curiosos desenhos da enxurrada no chão. Traçados sinuosos
que se encontravam e divergiam na areia fina, alisada pelas
águas, com pequenas poças a permanecer nas depressões. Divertia-me
a afundar os pés na terra, desmanchando os caprichosos desenhos
da natureza. Deleitava-me com a carícia macia e fresca que me
subia dos pés. Sementes de eucaliptos parecidas com pequenos
piões espalhavam-se pelo chão. Distraía-me sem noção do tempo.
Este só era marcado quando me chamavam para o lanche, para o
banho e para dormir. No entanto, não me distraía do horário
dos trens. Da varanda descortinava-se um pasto, sempre com animais
que forneciam o leite para a colônia e que alimentávamos com
espigas de milho por diversão. Além do pasto, estava a estrada
de ferro. Havia eucaliptais e grandes extensões ocupadas por
vegetação do tipo cerrado de árvores baixas e de fácil penetração
para o gado ou para as crianças que iam em busca de frutos silvestres.
Havia seriemas, lagoa com jacarés e o rio Mogi, mas estes proibidos
aos menores, permanecendo para nós uma bruma de mistério. A
cavalo, ajudava na tarefa de reunir o gado no fim do dia e trazê-lo
para a segurança dos estábulos. Havia muitas outras coisas de
causar deslumbramento. Sem embargo, o foco das minhas atenções
era a estrada de ferro que cruzava o domínio, com a estação
e o armazém. Era só começar a ouvir um ruído ao longe, procurava
um ponto de observação, geralmente a própria varanda com sua
mureta bem apropriada para isso. Firmava a vista no fim do pasto
e aparecia o topo da locomotiva, seguido dos vagões que iam
crescendo até se descobrirem a ponto de ver-lhes as rodas, sumindo
à direita onde ficava a estação. Dava para notar-lhes as características,
o tipo de locomotiva, o tipo de comboio e contar de quantos
vagões se compunha. Aqueles momentos eu desejava prolongar,
como hoje desejaria revivê-los, pedindo papel e lápis, ou lousa
e giz. Desenhava. Se achava que faltava algum pormenor, procurava
esclarecê-lo quando aparecia a oportunidade de ver o trem de
perto. O ponto alto do dia era ir à estação ver passar os trens
de passageiros. Às duas da tarde vinha o primeiro que saíra
de São Paulo muitas horas antes e se dirigia a Barretos. Amarrava
o cavalo no parachoques do desvio e lá ficava a esperar. Pontualmente
chegavam a grande locomotiva e os carros de aço, fazendo-me
transbordar de satisfação e orgulho. Parava pouco e partia.
Eu só tinha que esperar meia hora por ali, pois, da direção
oposta, às duas e meia, vinha o outro, com o mesmo tipo de locomotiva,
os mesmos carros. Outra parada rápida e ia embora para São Paulo,
deixando-me o silêncio do campo. Madrugada era frio, era aroma
de eucalipto, era cheiro de leite a ferver no fogão a lenha.
Copo na mão com açúcar no fundo, íamos habitualmente onde ordenhavam
as vacas para tomar de seu leite espumoso e morno. Algumas madrugadas
eram especiais. Saltava contente, vestia a melhor roupa que
minha mãe separava, engolia a xícara de leite e café, e dali
a pouco sacolejava na camionete a caminho da estação, em companhia
do meu tio, engenheiro agrônomo da Paulista, que fazia viagens
de inspeção dos hortos florestais e, para minha alegria, levava-me.
A silhueta da estação recortava-se contra o céu cuja escuridão
esmaecia num tom avermelhado. Sob a cobertura da plataforma,
duas lâmpadas amarelas emitiam seu brilho fraco. As poucas pessoas,
vultos de feições indefinidas, cumprimentavam-se. Nas linhas
do desvio, algum vagão esquecido parecia ainda dormir, ignorando
o dia que se aproximava. O poste do sinal mostrava o braço abaixado,
indicando que o trem que esperávamos estava próximo. Concentrava-me
nas paralelas que refletiam o clarão do alvorecer. Logo aparecia
o farol da máquina esforçando-se para vencer o aclive que chegava
à estação. A terra tremia e a máquina passava qual um pequeno
furacão, com seu estrondo de ferros em movimento. Mãos protetoras
puxavam-me, afastando-me daquele turbilhão, temendo que eu fosse
sugado por ele. As janelas iluminadas sucediam-se até parar
por completo. Vinha súbito silêncio somente quebrado pelo chiado
do vapor liberado pela locomotiva. O momento, porém, era de
ação e eu era conduzido quase a correr e ajudado a subir os
altos degraus, adentrando o carro de passageiros com as pessoas
sonolentas. Sentado na poltrona de palhinha trançada, meus pés
mal tocavam o chão. Atentava para a sequência de apitos e o
comboio se movia com quase imperceptíveis solavancos. Testa
contra a vidraça, agora via desfilar lá fora a frente da estação,
o armazém, o pasto e, entre flamboyants e eucaliptos, além do
pasto, a casa com a varanda de onde costumava observar os trens.
Até que tudo fosse encoberto pela vegetação a passar rapidamente,
tirando-me a vista. Tinha doze anos quando pela última vez desvendou-se
diante de mim esse panorama. Naqueles anos vi entristecido a
substituição das belas locomotivas a vapor pelas diesel-elétricas
sem personalidade ou traços individuais. Também os trens melhoravam
com a chegada do Trem Azul, que substituiu os de aço nos horários
principais. Davam a impressão de progresso. Entretanto, tudo
acabou no prazo de uma geração. Ficou a memória rica e sempre
cultivada, ainda que dolorosa, daquelas férias de menino. Epílogo:
O Horto Florestal do Guarani, da Companhia Paulista de Estradas
de Ferro, no município de Pradópolis, ainda conservando extensos
eucaliptais, foi negligenciado pela FEPASA depois da estatização
durante trinta anos. Foi invadido por integrantes do Movimento
dos Sem-Terra, que lhe saquearam a madeira e queimaram suas
inúmeras habitações e benfeitorias. Posteriormente, o Governo
do Estado de São Paulo dividiu-o em glebas e distribuiu-as aos
invasores. Então, já não passava de terra arrasada. Que falta
me fazem as fotografias nunca tiradas desse lugar, dos eucaliptos
e flamboyants, daqueles trens!" |
AO LADO: Ainda sobre a estação de Guarani (nova) (Cassio Ruas de Moraes, em relato de 17/5/2009). |
ACIMA: O fechamento da estação em 15
de agosto de 1968 (O Estado de S. Paulo,
1/8/1968).
(Fontes: Ralph M. Giesbrecht, pesquisa local; Rodrigo Cabredo;
Dirceu Baldo; Cássio Ruas
de Moraes; Cia. Paulista: Relatórios anuais, 1892-1969; Mapa
- acervo R. M. Giesbrecht) |
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As fundações e plataforma da estação
de Guarani, demolida (17/11/1998). Foto Ralph M. Giesbrecht |
O armazém de Guarani, abandonado, ainda em pé,
em 17/11/1998. Foto Ralph M. Giesbrecht |
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Atualização:
09.04.2020
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