A ESTAÇÃO: A estação de Três
Barras foi inaugurada em 1913 e era o ponto de saída
dos ramais da Lumber, a maior serraria da América Latina
na época, pertencente à Brazil Railways, que administrava
as linhas na época.
O trecho em que está hoje a estação esteve
abandonado durante anos, mas foi recuperado em 2004 pela ALL - para
logo depois ser abandonado novamente.
"Quanto à nossa estação, convivi muito
com ela. De 1965 a 1976, meu tio Ioni residiu ali e eu sempre estava
lá brincando com meus primos. Mais tarde, de 1979 até
1982, meu pai Jorge, que foi agente da estação, também
residiu na estação até se aposentar. Ainda
bem que ela foi transformada em museu, pois representa muito para
nós e seria uma tristeza se ela fosse demolida"
(José Francisco de Souza, Três Barras, SC, 05/2005).
"O Museu Municipal de Três Barras está instalado
no prédio da antiga estação de trem da cidade.
O último trem que passou por ali foi em 1997. Os trilhos
foram arrancados. Um capim escasso e amarelado cobre o caminho das
quatro linhas férreas. O prédio em madeira abriga
fotografias e objetos de décadas passadas, principalmente
dos tempos da Lumber & Colonization Company. O nome vem dos
três rios que a cercam: Negro, São João e Canoinhas.
Originalmente a cidade pertencia ao Paraná, mas o acordo
de limites com Santa Catarina fê-la ser incorporada a esta
último Estado. A história de Três Barras está
ligada ao término da construção da estrada
de ferro pela Brazil Railway, por volta de 1910, onde milhares de
trabalhadores foram abandonados e se apossaram de terras da região.
Para esta gente, a chegada da Lumber significou a expulsão:
em troca da construção da estrada de ferro a empresa
ganhou o direito de explorar 15 quilômetros de cada lado da
ferrovia. Começaria a operar nos rincões de Santa
Catarina a maior serraria da América do Sul, que exploraria
a madeira da região por quase três décadas.
Três Barras, nessa época, tinha status de capital:
cinemas, banco, restaurantes típicos, fábricas de
cigarro e de gelo, hotéis, cassino e clubes. Tudo de e para
a Lumber" (Diário Catarinense, 27/07/2002).
"Ioni Cyriaco de Souza foi telegrafista e chefe de estação
em Mafra e Três Barras. Morou 21 anos nesta última
estação, privilégio para quem ajudava a construir
a história da ferrovia no sul do Brasil. Pelos trilhos foi
escoada toda a produção de madeira. Entre 1945 e 1950,
lembra, a Serraria Lumber tinha um trem especial para recolher vagões
distribuídos ao longo do trecho. Normalmente, a carga seguia
para o porto de São Francisco, e todo o movimento da cidade
era patrocinado pela Lumber.
Os empregados recebiam vales, a "moeda" da cidade. Quando
o trem de passageiros chegava, não havia lugar na estação,
onde o povo também se apertava para assistir tragédias.
Certa vez, recorda Souza, um manobreiro estava entre os vagões
e na hora de fazer o engate na curva o vagào veio por cima
dele. "Quando conseguimos avisar o maquinista que era para
puxar para a frente, o colega estava morto". Outro dia deixaram
a chave virada ao contrário. O trem que deveria seguir direto
para a estação, entrou numa linha onde havia vagões.
A locomotiva a vapor era alimentada por lenha, e o foguista vinha
agarrado próximo da fornalha, quando peças se deslocaram
e o rapaz foi espremido. Centenas de litros de água fervendo
caíram sobre ele. 'Lembro até hoje do José,
que morreu. Por uma semana eu senti o cheiro de carne cozida'. Havia
muito trabalho na estação de Três Barras. Em
média passavam oito, nove trens de carga por dia, além
dos de passageiros" (Diário Catarinense, 27/07/2002).
ACIMA: uma das linhas que saía (à
direita) para a serraria Lumber. Havia quilômetros e quilômetros
de trilhos que se estendiam em diversos ramais dentro dos terrenos
da Lumber. Na foto, à esquerda, a estação de
Três Barras, e o trem ao lado da estação está sendo preparado
para sair, provavelmente para o porto; note que eles faziam uma
espécie de "telhado" com madeiras de segunda, sobre a carga. Toda
a área ao fundo era ocupada pelo depósito de tábuas, era uma área
aproximada, pela planta da Lumber, de 300 por 500 m. A locomotiva
à direita é a "fireless" da Lumber (Hannomag), atualmente em exposição
na área onde hoje é o exército, praticamente na mesma área onde
era a serraria da Lumber; esta ficava um pouco mais à direita (Acervo
Joeli Laba, foto de cerca de 1920). ABAIXO: Em 2007, trens
são extremamente raros numa linha que já amargou o
abandono total; linhas de desvio se mantém, mas a da Lumber
já foi erradicada há muito tempo (Foto Nilson Rodrigues,
junho de 2007).
ACIMA: Fim da linha? Não, mas parece.
Na verdade, a linha principal segue à esquerda do barraco,
originalmente utilizado para se guardar autos de linha e vagonetes.
A estação está um pouco antes, à direita
(Foto Ralph M. Giesbrecht, junho de 2008). ABAIXO:
E nevou em Três Barras em 22 de julho de 2013! (Foto Aecio
R. Budant).
(Fontes: Ralph M. Giesbrecht, pesquisa
local; Vitor Hugo Langaro; Fernando Picarelli; Nilson Rodrigues;
Joeli Laba; José Francisco de Souza; Diário Catarinenses,
2002; RVPSC: Relatórios anuais, 1920-60; RVPSC: Horário
de Trens de Passageiros e Cargas, 1936; IBGE, 1960)
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