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VXY Mogiana em MG
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Gironda
Tatuca
Capão da Cruz
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ramal de Jataí - 1935

IBGE-1955
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ESTIVE NO LOCAL: NÃO
ESTIVE NA ESTAÇÃO: NÃO
ÚLTIMA VEZ: S/D
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Cia. Mogiana de Estradas de Ferro (1911-1961)
TATUCA
Município de Luiz Antonio, SP
Ramal de Jataí - km 39,740 (1938)   SP-2909
Altitude: -   Inauguração: 13.06.1911
Uso atual: demolida   sem trilhos
Data de construção do prédio atual: 1911 (já demolido)
 
 
HISTORICO DA LINHA: O ramal de Jataí foi construído entre 1910 e 1913, como uma variante da linha-tronco da Mogiana, entre as estações de São Simão e de Ribeirão Preto, pelo seu lado oeste, como uma linha de defesa de zona contra a Cia. Paulista. Durante a sua construção, em 1911, as duas empresas chegaram a um acordo e o ramal acabou servindo agora para transbordo de mercadorias e passageiros, através de um novo ramal, de Monteiros a Guatapará, construído em 1914. Em 1961, o trecho entre São Simão e Monteiros foi desativado, e o ramal de Monteiros foi unido ao trecho até Ribeirão Preto formando o ramal de Guatapará. Em 1976, foi fechado definitivamente e os trilhos retirados dentro de Ribeirão no mesmo ano, e o restante até 1979.
 
A ESTAÇÃO: A estação de Tatuca foi inaugurada em 1911, juntamente com Gironda e Capão da Cruz. Esta estação era utilizada pela Mogiana principalmente para carregar lenha. Era uma vila ferroviária grande, pois era ponto de cruzamento de estradas. Ficava na Fazenda Tatuca, propriedade do Coronel Tatuca (Antonio Fernandes Nogueira), que morava na sede. Segundo os ferroviários antigos, na vila, à noite, tudo devia ser trancado, pois, em volta, havia muitas onças-pintadas, que invadiam as casas e a estação. Tatuca foi suprimida pela Mogiana no ano de 1954 (*RM-1954), bem antes do fechamento do ramal, em 1961. "Durante toda a minha primeira infância, dos dois aos sete anos, meu pai trabalhou como chefe de estação de trem. Nesse período, moramos em duas estações da Estrada Mogiana. Primeiro em uma que se chamava Anil, em Minas. Depois a gente mudou para outro lugar chamado Tatuca, já bem perto de Ribeirão Preto, em São Paulo. O lugar chamava Tatuca por causa do fazendeiro de mesmo nome, que tinha a maior fazenda da região. Criança ainda, ouvia histórias que davam conta de que esse fazendeiro, o Coronel Tatuca, açoitava um bandido famoso a época, um tal Dioguinho (Diogo da Rocha Figueira). Quem me contava essas histórias eram o meu pai, as pessoas que freqüentavam a estação, e o maquinista, o "Seu" Domingos. A única casa que tinha naquele lugar, além da nossa, era a dele, do "Seu" Domingos. Meu pai, além de chefe da estação, era telegrafista. Nessa época, 1945, talvez 1946, o lugar já enfrentava certa decadência, o ciclo do café já tinha passado, não era mais a estação importante que fora muitos anos antes. Era então estação de pouco movimento, só passavam um trem de manhã e um outro trem à noite. Às vezes passava algum trem de carga, que raramente transportava carga, só passava. Havia também um armazém imenso, que, diziam, no apogeu da cultura do café, vivia abarrotado de café até o teto. As histórias que ouvia sobre esse tal Dioguinho o comparavam a Lampião. Era bandido, mas justiceiro. Matava as pessoas a mando do Coronel Tatuca, mas, contavam, sempre era pra vingar alguma coisa. Comentavam, também, que era pessoa culta, também filho de fazendeiros, mas teria acontecido alguma desgraça com a família dele, e passou a fazer a justiça com as próprias mãos. Vivemos dois anos mais ou menos em Tatuca. A estação era a nossa casa, a gente morava na própria estação. De Tatuca, lembro dos japoneses que começavam a ocupar a região, das fazendas, dos japoneses que iam para a estação tomar o trem, que eles não falavam português, e sim uma língua muito confusa. Então, não sei como, uma moça lá, japonesa, ficou sabendo que minha mãe costurava, que fazia vestido de noiva que queriam que minha mãe costurasse. Minha mãe não falava uma palavra em japonês, e elas, uma palavra em português. Mas, milagrosamente, conseguiram explicar que o que queriam era aquele vestido da tal revista, aí trouxeram o pano e tal. O meu divertimento era o trem. Tinha dois trens de passageiros. Um que vinha de Ribeirão de manhã. E, à noite, chegava o que voltava. O meu grande divertimento era ver o trem passar. O trem parava na estação mesmo que não houvesse passageiro para subir ou para descer. Tinha de parar, era obrigatório. Lembro-me de outro personagem de minha infância. Era um maquinista, que morava meio afastado, o "Seu" Domingos, um negro muito interessante. Não lembro muito do rosto dele, mas sei que era um grande contador de "causos". Então depois que o trem passava, acho que era 8 horas da noite, ou seja, o serviço tinha acabado, trem só amanhã, a gente ficava sentada na plataforma da estação, meu pai, minha mãe, "Seu" Domingos e, às vezes, a mulher do boiadeiro, porque o boiadeiro viajava muito também e a mulher do boiadeiro ficava muito sozinha. Aí "Seu "Domingos ficava contando histórias, tanto da região, quanto de outros lugares. Gostava muito das histórias de bicho que contava, principalmente de onças, na região tinha muita onça àquela época. Não lembro das histórias, lembro apenas das sensações que aquelas histórias me causavam, e eram sensações muito boas, de alegria" (Rogério Menezes: Walderez de Barros - Voz e silêncios, IMESP, 2004).



AO LADO: Anúncio de inauguração das estações de Gironda, Tatuca e Capão da Cruz em 1911 (O Estado de S. Paulo, 9/6/1911).
(Fontes: Vanderley Zago; Aristides Silva: Cia. Mogiana: relatórios anuais, 1900-69; O Estado de S. Paulo, 1911; Cia. Mogiana: Álbum. c. 1915; Rogério Menezes: Walderez de Barros - Voz e silêncios, IMESP, 2004; Mapa - acervo R. M. Giesbrecht)
     

Estação de Tatuca, c. 1915. Foto do álbum da Mogiana

Estação de Tatuca, anos 1940. Foto Aristides Silva, acervo Vanderley Zago
 
     
     
Atualização: 16.07.2016
Página elaborada por Ralph Mennucci Giesbrecht.