A B C D E
F G H I JK
L M N O P
Q R S T U
VXY Mogiana em MG
...
Rifaina
Jaguara
Sacramento
...

Linha do Rio Grande-1935
...
ESTIVE NO LOCAL: SIM
ESTIVE NA ESTAÇÃO: SIM
ÚLTIMA VEZ: 2007
...
 
Cia. Mogiana de Estradas de Ferro (1888-1971)
FEPASA (1971-1976)
JAGUARA
Município de Sacramento, MG
Linha do Rio Grande - km 502,962 (1938)   MG-1661
Altitude: 519 m   Inauguração: 05.03.1888
Uso atual: abandonada (2018)   sem trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
 
 
HISTORICO DA LINHA: A Linha do Rio Grande foi inaugurada em seu primeiro trecho em 1886, e em dois anos (1888), já chegava a Rifaina, onde cruzava o rio Grande e mudava o nome para Linha do Catalão, que por sua vez chegou a Uberaba já no ano seguinte. Em 1970, as duas linhas foram seccionadas, com a construção da barragem de Jaguara. O trecho a partir de Pedregulho foi extinto, e logo depois, o trecho a partir de Franca também o foi. Em 1977, os trens de passageiros deixaram de circular, e em 1980, passou o último trem de carga. Em 1988, seus trilhos foram arrancados. Em 1990, foram recolocados os trilhos no trecho entre Pedregulho e Rifaina, constituindo-se a E. F. Vale do Bom Jesus, com fins turísticos.
 
A ESTAÇÃO: Embora já em território mineiro, pouco além da travessia do rio Grande, a estação de Jaguara era considerada a última estação da Linha do Rio Grande. Nela se iniciava a Linha do Catalão. Foi inaugurada em 1888. A ponte sobre o rio Grande, o trecho de linha entre Franca e Jaguara e a própria estação foram inauguradas no início de março de 1888 (ver caixas de 1888 abaixo). As datas divergem um pouco da data fornecida pela Mogiana e da data dos anúncios no jornais.

A estação era bastante grande, bem como seu pátio, porque foi projetada para estação e depósito para a navegação fluvial do rio Grande. na estação, havia um restaurante, como mostra o relatório da Mogiana de 1913: "autorizados melhoramentos no restaurante na estação de Jaguara". Nesse mesmo ano, falava-se numa ferrovia, que chegou a ter a concessão dada a Francisco de Araújo Feio, que ligaria Jaguara a Lavras passando pela cidade de Dores. Como se sabe, não saiu.

Com a abertura da estação em 1888, iniciou-se uma linha de navegação do rio, entre Jaguara e Porto da Ponte Alta, tendo uma estação (porto) intermediária, chamada de Boca Grande. Porém, a 22 de novembro de 1888, o vapor Sapucaí-Mirim naufragou na corredeira um pouco além de Boca Grande. O acidente foi grave, a ponto de, no início de 1989, a Mogiana tenha desistido do serviço de navegação. O trecho, no entanto, ainda foi utilizado por barcos autômos, que faziam o mesmo trajeto, por algum tempo.

Em 1946, a situação começava a piorar na região, para as ferrovias: em fevereiro, foi aberta uma linha de ônibus entre a cidade de Sacramento, onde estava a estação de Jaguara, para Uberaba. Ao mesmo tempo, uma cheia no rio Grande enlameou as águas, afetando os pescadores que pescavam junto à ponte de Jaguara, pois diminuiu muito o volume de peixes (O Estado de S. Paulo, 2/3/1946). Estes eram pescados e exportados pela Mogiana a partir da estação.

Em 1970, com a desativação do trecho entre Pedregulho e Jaguara devido à construção da represa de Jaguara, a estação passou a ser ponta de linha do trecho Uberaba-Jaguara.

A estação está desativada desde 1976, quando o tráfego de trens entre Uberaba e ela foi desativado. Na verdade, o Guia Levi de julho de 1976 dava como "suspenso até segunda ordem o tráfego entre Conquista e Jaguara", indicando que em meados de 1976, o trem somente chegava até Conquista, duas estações antes na antiga linha do Catalão. Com os trens de passageiros cancelados, a linha foi desativada mesmo para cargas poucos anos depois. Os trilhos foram retirados.

A estação em 2018 estava abandonada. Porém, ela tinha um pátio realmente grande. Diversas casas de turma estavam espalhadas por uma imensa vila ferroviária, hoje sem trilhos e com bastante mato. Alguns desses prédios pareciam habitados, outros eram depósitos, como a própria estação, que, embora devassada, continha em seus quartos já sem os pisos de madeira e em suas plataformas diversos tipos de materiais deixados ali provavelmente pelas poucas famílias que habitavam por ali.

Pode-se dizer que ali hoje existe um bairro de chácaras, um bairro rural afastado da sede do município, que é Sacramento, da usina, que não fica tão próxima assim, e da rodovia asfaltada Rifaina-Araxá, a cerca de 1,5 km do prédio da estação.

O local impressiona. A estação, mesmo em pandarecos, é muito bonita, é um belo prédio, que tem quase 120 anos em 2017. Por que seria esta construção tão grande para um local que sempre foi isolado? Por que uma vila ferroviária tão espalhada? Imagino a quantidade de trilhos que deviam existir ali, entre linha principal e desvios. A resposta somente poderia ser uma: a navegação fluvial da Mogiana no rio Grande, que foi aberta em 1888 com grandes esperanças e fechada e jamais reberta 6 meses depois, quando o afundamento de um de seus barcos a suspendeu por tempo indeterminado, ou seja, até hoje e impediu a concretização dos sonhos da Mogiana de levar suas cargas rio abaixo, para Santa Rita do Paraíso (Igarapava) e a região de Barretos, e rio acima, para Minas Gerais. Por isso um edifício tão grande, que tinha também um armazém à espera de grandes cargas que seriam embarcadas no rio, ali perto - a 200, 500 metros? não tenho certeza da distância.

A estação não ficava à beira do rio, mas provavelmente teria um feixe de desvios que permitiam carregar as mercadorias de e para a margem do rio Grande. Só mesmo estando ali para se impressionar com tudo isso. Enfim, um belo local para ser preservado e que não é. Coisas que acontecem no Brasil e que muita gente não entende.

CLIQUE AQUI PARA VISUALIZAR A ESTAÇÃO VISTA DO SATELITE
(gentileza Antonio Carlos Mussio)

1885
AO LADO:
Edital para coostrução de diversas estações na linha do Rio Grande e no ramal de Caldas, inclusive esta (A Provincia de S. Paulo, 29/7/1885).

1885
AO LADO:
Era prevista muita carne embarcando em Jaguara (A Provincia de S. Paulo, 22/9/1885).

ACIMA: Quem doou os terrenos para a construção da estação de Jaguara em 1887. Cerca de sete meses mais tarde, a estação foi inaugurada (A Provincia de S. Paulo, 2/8/1887).

1888
AO LADO:
A inauguração da ponte do Jaguara foi marcado para 3 de março (A Provincia de S. Paulo, 28/2/1888).

1888
AO LADO:
A inauguração do trecho entre Franca e Jaguara foi marcada para 6 de março (A Provincia de S. Paulo, 2/3/1888).

1888
AO LADO:
O chefe da estação, Augusto Silva, mal assumiu o cargo, foi remolvido para o cargo de agente do correio (A Provincia de S. Paulo, 2/3/1888).

1888
AO LADO:
Chega a primeira grande leva de gado na estação (A Provincia de S. Paulo, 27/6/1888).

1889
AO LADO:
O trem descarrila na estação (A Provincia de S. Paulo, 4/10/1889).

ABAIXO: Ponte de Jaguara, provavelmente anos 1910 (Cartão postal).

ACIMA: A ponte de Jaguara sobre o rio Grande, em 1913, na divisa São Paulo/Minas Gerais (Autor desconhecido).

ACIMA: Casava-se, claro, também em Jaguara. No caso, em 1914, foi o casamento da filha de um dos membros da família Cassiano, que havia doado as terras para a Mogiana e que ainda moravam em volta na sua fazenda (O Estado de S. Paulo, 5/7/1914).

1924
AO LADO:
Atrasos no carregemtno de tenders na estação (O Estado de S. Paulo, 19/6/1924).

ACIMA: Vendiam-se na estação os tijolos refratários com a sua marca. A Ceramica Jaguara despachava pela estação (O Estado de S. Paulo, 20/2/1936).

ACIMA: A estação de Jaguara, no centro do mapa dos anos 1970. Notar a linha de Mogiana com os pedaços fora da represa - que já a havia sido inundada em 1970 - ver canto esquerdo inferior do mapa e, depois, continunado mais para cima, à esquerda e aí atravessando o rio Grande (a ponte se manteve, mas inoperante) e chegando à estação. Dali para a frente a linha ainda seguiu funcionando até 1976 - CLIQUE SOBRE A FIGURA PARA VÊ-LA MAIOR - (IBGE).

ACIMA: A estação de Jaguara nos seus últimos anos em operação nos anos 1970 (Foto André Borges Lopes).

ACIMA: Em 2019 a ponte de Jaguara estava assim, depois das modificações no curso do rio Grande feitas nos anos 1970 para construção da barragem (Acervo Luiz Souza - sem data identificada).

(Fontes: Ralph M. Giesbrecht, pesquisa local; André Borges Lopes; Nilson Rodrigues; Antonio Soukhef; Sebastião Angelo de Souza: Pelos caminhos da história de Santa Rita do Paraíso, Ed. Vitoria, 1985; A Provincia de S. Paulo, 1887; O Estado de S. Paulo, 1913, 1914, 1936, 1946; Cia. Mogiana: relatórios anuais, 1875-1969; Cia. Mogiana: relação oficial de estações, 1937; Mapa - acervo R. M. Giesbrecht)
     

A estação de Jaguara no início do século XX. Foto cedida por Nilson Rodrigues

A estação em 1913. Autor desconhecido

Estação de Jaguara, em 2001. Foto Antonio Soukhef

Estação de Jaguara, em 2001. Foto Antonio Soukhef

Estação de Jaguara, em 2001. Foto Antonio Soukhef

Em 29/12/2006, a bela estação. Foto Ralph M. Giesbrecht

Em 29/12/2006, a bela estação. Compare esta com a de 100 anos antes, acima à esquerda. Foto Ralph M. Giesbrecht

Os antigos guichês na sala, convivem com a sujeira e o material logado. Foto Ralph M. Giesbrecht em 29/12/2006

A estação em junho de 2018. Foto Folhapress/Joel Silva
     
Atualização: 18.03.2021
Página elaborada por Ralph Mennucci Giesbrecht.