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E. F. Mossoró-Souza
(1915-1950)
Rede Ferroviária do Nordeste (1950-1975)
RFFSA (1975-1997) |
MOSSORÓ
Município de Mossoró, RN |
E. F. Mossoró-Souza - km 37 (1960) |
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RN-3247 |
Altitude: - |
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Inauguração: 19.03.1915 |
Uso atual: "Estação das
Artes" (2022) |
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com trilhos |
Data de construção do
prédio atual: n/d |
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HISTORICO DA LINHA: A E. F. Mossoró-Souza
foi inaugurada em 1915 entre Porto Franco e a cidade de Mossoró,
com o objetivo de se alcançar a cidade de Alexandria, na divisa
do Rio Grande do Norte com a Paraíba. Após muitos adiamentos,
o prolongamento da linha foi saindo aos poucos, em 1926 a São
Sebastião e somente em 1951 a Alexandria. Por volta de 1958
chegou a Souza, encontrando-se com a linha Recife-Fortaleza nessa
cidade. Nos anos 1980, a ferrovia foi desativada e seus trilhos arrancados
em praticamente todo o percurso. |
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A ESTAÇÃO: A estação
de Mossoró foi inaugurada com a linha para Porto
Franco em 1915.
Doze anos depois (1927), Lampião juntou seu bando e alguns
líderes cangaceiros da região, entre eles o chefe de bando do oeste
potiguar, Massilon. Após pedido de dinheiro para não invadir
a cidade de Mossoró, na época com uns 25 mil habitantes, e
negativa do prefeito Cel. Rodolpho Fernandes, a cidade se preparou
para a batalha. Mulheres, crianças, idosos e enfermos tentavam embarcar
no trem para Porto Franco, próximo a Areia Branca. Vagões
de carga eram atrelados à composição para que a multidão pudesse
partir, mesmo assim não tinha lugar para todos. Naquele dia a locomotiva
a vapor partia para uma viagem relativamente curta deixando a fumaça
preta no ar tamanho o esforço com o peso tracionado. No dia 13 de
junho daquele ano, Lampião e seu bando entram em Mossoró
sofrendo uma terrível derrota frente aos bravos moradores daquela
cidade. Foge deixando para trás o cangaceiro Jararaca que foi
preso e "justiçado" pela polícia local. Antes de entrar na cidade,
Lampião comentou com os seus comparsas que "cidade com mais
de duas torres não é para cangaceiro".
No dia seguinte após a batalha completou: "da torre da igreja até
o santo atirava na gente".
"Nós gostamos de nos identificar como sendo de uma entidade
mítica chamada de "país de Mossoró", aceito como verdadeiro
por força da tradição. Um ex-diretor do então Ginásio Diocesano Santa
Luzia, o padre Cornelio Dankers, um sacerdote holandês de rosto avermelhado,
que não sei como nem porque foi parar nas frondes da caatinga nordestina,
dizia que havia muito de similitude entre holandeses e mossoroenses.
Enquanto eles construíram seu país conquistando terras ao mar, nós
assentamos o nosso sobre as agruras e vicissitudes do semi-árido e,
às vezes, enfrentando o descaso e interesses misteriosos dos poderes
constituídos.
Acho que o transporte ferroviário é um exemplo típico. A ferrovia
é uma aspiração mossoroense desde 1870, quando se fez um projeto ligando
Porto Franco, no litoral norte potiguar, ao rio São Francisco, com
a utilização de recursos privados. Um desses idealistas,
Francisco Solon, conseguiu a concessão do empreendimento, viajou a
Paris e conseguiu os financiamentos necessários, contudo não obteve
a aprovação do governo brasileiro.
O assunto ficou em compasso
de espera até 1912, quando nova concessão
foi dada a Humberto Sabóia, Vicente Sabóia de Albuquerque e Francisco
Tertuliano de Albuquerque.
Em 1927, os trilhos da ferrovia chegavam a São Sebastião (hoje Dix-Sept
Rosado), viabilizando a exploração de uma das maiores jazidas de gipsita
do Brasil. No dia 30 de setembro de 1929 foi entregue o trecho de
Carnaúbas e, em 1936, o de Mineiro. Nos anos cinqüenta, já com a participação
do governo federal, os trilhos ligavam Mossoró à cidade paraibana
de Souza. Grandes nomes (mossoroenses de nascimento ou por adoção)
participaram dessa odisséia. Entre eles Urich Grafe, Chorkatt de Sá,
Francisco Solon, Roderic Grandall, Augusto Severo, Humberto Sabóia
Meira e Sá, Vicente Carlos de Sabóia, Francisco Tertuliano de Albuquerque,
Vicente Carlos de Sabóia Filho, o prefeito Luiz Ferreira da Mota (o
padre Mota), Jerônimo Rosado, General Agenor Zuzine Ribeiro, o deputado
Vicente da Mota Neto, Luis de Sabóia, Francisco Galvão de Araújo,
Pedro Leopoldo da Silveira.
A verdade era que em Mossoró havia duas ferrovias: a Estrada de Ferro
de Mossoró, que explorava o trecho Mossoró-Porto Franco, até
o litoral e a Estrada de Ferro Mossoró-Souza, que ia até aquela cidade
paraibana. Depois, houve a fusão das duas e em Mossoró passou a existir
apenas uma Delegacia Administrativa da Rede Ferroviária do Nordeste,
fato que ensejou a transferência de grande número de funcionários
para outras cidades. Na gestão de Mário Andreazza no Ministério dos
Transportes, para incentivar o transporte rodoviário, as ferrovias
foram garroteadas e, criminosamente, os trilhos de alguns trechos
foram arrancados e vendidos como ferro velho. Em 1968, houve a primeira
tentativa para a extinção da ferrovia de Mossoró, até que, na década
passada, as locomotivas pararam de vez.
Agora noticia-se que o BNDES vai conceder empréstimo à Cia. Ferroviária
do Nordeste (sucessória da Rede Ferroviária do Nordeste) para a recuperação,
melhoria e construção da chamada Ferrovia Transnordestina,
que vai ligar São Luiz, no Maranhão até a capital pernambucana. O
trecho do Rio Grande do Norte seria apenas um ramal que, saindo de
João Pessoa, atingiria Natal, possivelmente Angicos e terminaria
em Macau. E Mossoró? Nisso ninguém fala. Havia duas, não há nenhuma
e estamos fora do novo projeto de ferrovia. Mossoró tem sal, frutas,
cimento, camarão e uma miríade de outros produtos para serem transportados.
Com a palavra os representantes de Mossoró nas casas legislativas
e em outros postos governamentais: os deputados Sandra, Betinho e
Larissa Rosado, Francisco José e Ruth Ciarlini, a governadora Wilma
de Faria (é, ela nasceu em Mossoró) e o senador José Agripino Maia"
(Tomislav R. Femenick, "Havia duas, não há nenhuma
e estamos fora", Jornal de Hoje, Natal, RN, 24/11/2003).
As resoluções RI-104 e RI-105 de 24 e 25/6/1964 determinaram
a suspensão imediata dos trens de passageiros entre Porto
Franco e a estação de Mossoró.
Os trens de passageiros circularam no ramal de Mossoró-Souza
até cerca de 1989. No início desse mesmo ano foi visto estacionado
na estação de Sousa. Em suas últimas viagens, ele saía de Sousa
às 3 h da madrugada, chegava em Mossoró às 9 h da manhã, retornando
às 15 h e chegando a Sousa por volta das 21 h. Essa viagem,
nessa época, acontecia somente às segundas-feiras e aos sábados.
A estação continuava lá em 2022. Não conheço
o local, mas parece que, pelas fotos, parte da vila ferroviária
foi pintada com cores diferentes e é a tal "cidade das artes";
a ex-estação em si parece bem conservada, mas com outro
uso. Entre 2005 e 2022, passou por várias pinturas, tanto externamente quanto internamente, além de pequenas reformas. Sem dúvida, vem sendo bem mantida.
Os trilhos da ferrovia foram arrancados em grandes trechos, suas
oficinas estão em ruínas e, das locomotivas, que antes cortavam a cidade
de Mossoró, não se tem mais notícias.
ACIMA: Inauguração do trem
em Mossoró, em 1915 (Autor desconhecido).
ACIMA: A linha da E. F. Mossoró-Souza
passa pelo município de Mossoró nos anos 1950 (IBGE:
Enciclopedia dos Municípios Brasileiros, vol. V, 1960).
ACIMA: A cidade se defende esperando o ataque
de Lampião a Mossoró, em 1927 (Autor desconhecido).
ACIMA e AO LADO: Interior do segundo
andar da estação de Mossoró, em 2005
(Autor desconhecido).
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ACIMA: Estação de Mossoró, sem data - possivelmente em 2005 (Autor desconhecido).
ACIMA: Ruínas das oficinas e galpões da RFFSA
em Mossoró. O que se vê na foto do início dos anos 1990 é a parte
externa do complexo de oficinas e galpões. A foto foi feita com o
fotógrafo posicionando-se de costas para a avenida Rio Branco e registrando
a parte externa posterior (traseira) dos galpões. O terreno onde ficavam
tinha cerca de 540 metros de comprimento por 56 de largura, e contava
com quatro galpões geminados que abrigavam almoxarifado, depósito,
carpintaria e oficinas onde se faziam reparos de máquinas e vagões.
Esses galpões possuíam os mencionados nomes gravados em alto relevo
com letras graúdas de caixa-alta cravadas no frontispício de cada
um deles, logo acima das portas. Trilhos passavam por dentro de dois
desses galpões, (oficinas e carpintaria) e geralmente havia máquinas
e carros estacionados dentro deles. Esses prédios possuíam saídas
de ar longitudinais no topo dos telhados para que os vapores ou fuligens
das máquinas não se acumulassem em seu interior. Logo ao lado das
oficinas ficavam os escritórios da Rede, uma escola, uma vila ferroviária
(que ainda hoje existe) e um campo de futebol. O terreno ainda contava
com um enorme tanque para abastecimento das locomotivas diesel e uma
antiga caixa-d'água. Todo esse complexo permaneceu, desde o fim das
estações de passageiros em 1991 até o arrancamento dos trilhos em
2001, completamente abandonado e se deteriorando com a ação do tempo
e de vândalos que roubavam seus materiais. Boa parte dos galpões havia
já desabado quando as máquinas da prefeitura vieram e deitaram abaixo
o que ainda restava das ruínas. Essa demolição ocorreu em 2004, e
hoje não resta absolutamente mais nada para contar a história. Por
sobre o terreno foi aberta, ainda no mesmo ano, uma longa avenida
que acompanha o antigo percurso da linha férrea (Foto provavelmente
de jornal da época (1990). Texto de João Costa, setembro de
2013).
ACIMA: A estação de Mossoró, hoje Cidade das Artes, em 2022 (Foto Assis Nascimento).
(Fontes: Assis Nascimento, 2022; Adriano Perazzo; João Costa,
2013; Luís L'Aiglon Pinto Martins, 2007; George Mascena, 2008; Ricardo Tersuliano; A.
A. Araújo e L .R. Bonfim: Lampião e a Maria Fumaça,
2002; IBGE: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros,
1960; Jornal de Hoje, Natal, RN, 24/11/2003; Guia Geral de Estradas
de Ferro do Brasil, 1960; Mapa - acervo R. M. Giesbrecht) |
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A estação em 1915. Autor desconhecido |
A estação nos anos 1950. Acervo George Mascena |
A estação em 2003. Reproduzido do livro Lampião
e a Maria Fumaça, de A. A. Araújo e L .R.
Bonfim |
A estação em 2005. Autor desconhecido |
A estação em 2005. Autor desconhecido |
A estação em 2007. Foto Luís L'Aiglon Pinto Martins
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A estação em 2008. Foto George Mascena |
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Atualização:
17.01.2023
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