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E. F. Oeste de Minas
(1926-1931)
Rede Mineira de Viação (1931-1965)
V. F. Centro-Oeste (1965-1975)
RFFSA (1975-1996) |
BATUÍRA
Município de Uberaba, MG |
| Ramal Ibiá-Uberaba - km 1.025,000
(1960) |
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MG-4390 |
| Altitude: 790 m |
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Inauguração: 15.11.1926 |
| Uso atual: abandonada (2015) |
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com trilhos |
| Data de construção do
prédio atual: 1926? |
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| HISTORICO DA LINHA: A linha Ibiá-Uberaba,
ligando o tronco da E. F. Oeste de Minas (depois RMV) à linha
do Catalão, da Mogiana, foi aberta em 1926. Funciona até
hoje com trens cargueiros, e em 1982 a parte da linha que passava
por dentro da cidade de Araxá foi erradicada com a construção
de uma variante que margeia a cidade. |
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A ESTAÇÃO: A estação
de Batuíra foi inaugurada em 1926 pela E. F. Oeste de
Minas, no ramal Ibiá-Uberaba, projetado originalmente originalmente pela E. F. Goiaz, como se pode ler no caixa abaixo.
"Esse ramal
de Uberaba foi a ferrovia da minha infância. Minha muito querida
tia-avó Mariquinha era dona de uma fazenda cuja sede fica
bem defronte à estação Batuira. Eu e meus irmãos, às vezes
acompanhados por alguns amigos, passávamos férias e finais-de-semana
por lá. Uma das nossas aventuras preferidas de criança era
caminhar pela linha do trem, acompanhando suas curvas preguiçosas
até o pontilhão de ferro sobre o Córrego dos Pintos, com a
expectativa de cruzar com uma das escassas composições que
usavam a linha. De lá, na época da seca, era possível voltar
andando pelo leito do riacho até os fundos do pomar da fazenda. Hoje, o Google Earth me mostra que o pontilhão fica a somente
1,5 Km da sede. Na época, nos parecia uma expedição digna
de aventureiros de cinema. Nos primeiros anos, era comum irmos
de trem até a fazenda. Me lembro de viajar algumas vezes em
composições puxadas por marias-fumaça, em velhos vagões de
madeira. Em linha reta, Batuira fica a uns 15 Km da estação
da Mogiana em Uberaba. De carro, são cerca de 18 km, que se
faz em meia-hora se não houver muita lama no caminho. O trem
levava mais de uma hora para cumprir o trajeto. Um deleite
para quem estava se divertindo no passeio, mas um tormento
para os passageiros com destino a Belo Horizonte. Eram nada
menos que 6 horas até Araxá e inacreditáveis 30 horas até
a capital mineira (isso se não houvesse incidentes no percurso).
Minha mãe conta que chegou a fazer essa viagem algumas vezes.
A Rede Mineira de Viação - RMV (Ruim Mas Vai, na sintomática
versão popular) foi a precária ligação do Triângulo Mineiro
com a capital do Estado até a abertura e pavimentação da BR-262,
já no início dos anos 1970. Com a chegada do asfalto, os obsoletos
trens não tinham como competir com os ônibus, que fazem o
trajeto em 7 ou 8 horas. A linha foi relegada ao transporte
de carga, em condições bastante limitadas apesar de algumas
reformas e manutenções na linha. Basta acompanhar a ferrovia no Google Earth
para ver como o traçado da Oeste de Minas é ridiculamente sinuoso,
acompanhando todas as curvas de nível de um terreno que nem é muito
acidentado na região de Uberaba" (André Borges Lopes,
6/4/2014).
A estação
estava de pé em 2015 e abandonada.
ACIMA: Mapa de situação da estação Batuíra em 1970 - CLIQUE SOBRE A FIGURA PARA VER O MAPA COM MAIS ABRANGÊNCIA (IBGE, 1970).

ACIMA: No pátio da estação
de Batuíra, em 2010 ainda se vêem vagões da antiga
RFFSA abandonados (Foto Thiago de Freitas).
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Encontrei nos arquivos digitalizados do jornal Folha da
Manhã do ano 1926 duas saborosas notícias sobre o meu saudoso
"Ramal de Uberaba" da Oeste de Minas que talvez lhe interessem.
A primeira está no canto inferior direito da página 10 na
edição do dia 02/01/1926. Conta que na véspera, dia 1º de
janeiro, aconteceu uma inauguração provisória do trecho entre
Uberaba e Capão dos Porcos (que eu suponho seja a futura estação
Almeida Campos). A ponte sobre o antigo Rio das Velhas (atual
Rio Araguari) ainda não estava concluída, impedindo a ligação
da linha com o trecho de Araxá, mas a ferrovia foi inaugurada
como um ramal saindo de Uberaba, com apenas um trem por semana
(aos sábados) para atender a população do entorno das estações.
Suponho que o material rodante tenha vindo pela linha da Mogiana.
É curioso que as três estações inauguradas estão com nomes
provisórios: Pinto (futura Batuira), Água Emendada (Itiguapira)
e a citada Capão dos Porcos (Almeida Campos). A entrega da
ponte do rio Araguari estava prevista para março do mesmo
ano, mas como o Brasil de 1926 não era muito diferente do
de hoje, a inauguração definitiva da ligação entre Uberaba
e Araxá só vai acontecer no dia 11 de novembro de 1926 (aparece
na edição do dia 19/11/1926 da Folha da Manhã, página 8) consolidando
a integração do Triângulo com Minas Gerais. Nessa ocasião,
as estações já aparecem com os nomes definitivos e inaugura-se
com festa a estação Uberaba da Oeste de Minas (depois R.M.V.)
que vai funcionar até o final dos anos 1960 (1966 ou 67, se
eu não me engano). A curiosidade dessa segunda notícia é que
o jornal destaca o fato de que a construção da linha custou
muito barato: 79 contos de réis por quilômetro linear. Cito
o jornal: "não se conhece no Brasil uma via-ferrea, cujo custo
quilométrico fosse tão baixo. E, pode-se dizer, a construção
mais barata que se fez no Brasil até o atual momento". Quem
conhece a linha entende muito bem o porque: não há grandes
rios a transpor, o relevo é relativamente suave na maior parte
do percurso e a ferrovia foi feita praticamente acompanhando
as curvas de nível do terreno, o que resulta num traçado absurdamente
sinuoso para evitar quaisquer deslocamentos de terra de maior
vulto e/ou a construção de obras de arte. Há casos em que
a linha contorna brejos ou pequenos cursos d'água por quilômetros
a fio para depois passar a 200 ou 300 metros do ponto original.
O que deu origem à uma lenda ferroviária de que os construtores
foram pagos por quilômetro de linha assentada, e não por trecho
cumprido. No fim resultaram 273 km de ferrovia para cobrir
uma distância que, por rodovia, é de cerca de 170 km (em linha
reta não passa de 150 km). Economicamente, suponho que teria
sido muito melhor se houvesse custado o dobro por km, desde
que o trecho ficasse significativamente mais curto. Como até
hoje essa linha continua sendo usada por trens cargueiros
(praticamente com o mesmo trajeto), certamente o que já se
desperdiçou de carvão, diesel e tempo nesses quase 90 anos
teria pago com sobra uma eventual diferença. Sentimentalmente,
entretanto, é provável que um traçado mais arrojado não passasse
bem defronte à sede da fazenda da minha tia-avó, o que para
mim fez toda a diferença (André Borges Lopes, 6/4/2014).
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AO LADO: Por André Borges Lopes, em 6/4/2014. |
(Fontes: André Borges Lopes; Thiago de Freitas; Leandro
Quintiliano; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960)
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A estação em julho de 2010. Foto Thiago de Freitas
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A estação em julho de 2010. Foto Thiago de Freitas
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| Atualização:
08.07.2019
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