Encontrei
nos arquivos digitalizados do jornal Folha da Manhã do ano 1926
duas saborosas notícias sobre o meu saudoso "Ramal de Uberaba" da
Oeste de Minas que talvez lhe interessem. A primeira está no canto
inferior direito da página 10 na edição do dia 02/01/1926. Conta
que na véspera, dia 1º de janeiro, aconteceu uma inauguração provisória
do trecho entre Uberaba e Capão dos Porcos (que eu suponho seja
a futura estação Almeida Campos). A ponte sobre o antigo Rio das
Velhas (atual Rio Araguari) ainda não estava concluída, impedindo
a ligação da linha com o trecho de Araxá, mas a ferrovia foi inaugurada
como um ramal saindo de Uberaba, com apenas um trem por semana (aos
sábados) para atender a população do entorno das estações. Suponho
que o material rodante tenha vindo pela linha da Mogiana. É curioso
que as três estações inauguradas estão com nomes provisórios: Pinto
(futura Batuira), Água Emendada (Itiguapira) e a citada Capão dos
Porcos (Almeida Campos). A entrega da ponte do rio Araguari estava
prevista para março do mesmo ano, mas como o Brasil de 1926 não
era muito diferente do de hoje, a inauguração definitiva da ligação
entre Uberaba e Araxá só vai acontecer no dia 11 de novembro de
1926 (aparece na edição do dia 19/11/1926 da Folha da Manhã, página
8) consolidando a integração do Triângulo com Minas Gerais. Nessa
ocasião, as estações já aparecem com os nomes definitivos e inaugura-se
com festa a estação Uberaba da Oeste de Minas (depois R.M.V.) que
vai funcionar até o final dos anos 1960 (1966 ou 67, se eu não me
engano). A curiosidade dessa segunda notícia é que o jornal destaca
o fato de que a construção da linha custou muito barato: 79 contos
de réis por quilômetro linear. Cito o jornal: "não se conhece no
Brasil uma via-ferrea, cujo custo quilométrico fosse tão baixo.
E, pode-se dizer, a construção mais barata que se fez no Brasil
até o atual momento". Quem conhece a linha entende muito bem o porque:
não há grandes rios a transpor, o relevo é relativamente suave na
maior parte do percurso e a ferrovia foi feita praticamente acompanhando
as curvas de nível do terreno, o que resulta num traçado absurdamente
sinuoso para evitar quaisquer deslocamentos de terra de maior vulto
e/ou a construção de obras de arte. Há casos em que a linha contorna
brejos ou pequenos cursos d'água por quilômetros a fio para depois
passar a 200 ou 300 metros do ponto original. O que deu origem à
uma lenda ferroviária de que os construtores foram pagos por quilômetro
de linha assentada, e não por trecho cumprido. No fim resultaram
273 km de ferrovia para cobrir uma distância que, por rodovia, é
de cerca de 170 km (em linha reta não passa de 150 km). Economicamente,
suponho que teria sido muito melhor se houvesse custado o dobro
por km, desde que o trecho ficasse significativamente mais curto.
Como até hoje essa linha continua sendo usada por trens cargueiros
(praticamente com o mesmo trajeto), certamente o que já se desperdiçou
de carvão, diesel e tempo nesses quase 90 anos teria pago com sobra
uma eventual diferença. Sentimentalmente, entretanto, é provável
que um traçado mais arrojado não passasse bem defronte à sede da
fazenda da minha tia-avó, o que para mim fez toda a diferença (André
Borges Lopes, 6/4/2014).
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AO LADO: Por André Borges Lopes, em 6/4/2014.
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