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E. F. Leopoldina
(1875-1975)
RFFSA (1975-1996) |
RECREIO
Município de Leopoldina, MG (1876-1944);
Município de Recreio, MG (1944-) |
Linha do Centro - km 308,081 (1960) |
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MG-1532 |
Altitude: 176 m |
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Inauguração: 22.05.1876 |
Uso atual: museu ferroviário (2019) |
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com trilhos |
Data de construção do
prédio atual: n/d |
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HISTORICO DA LINHA: O
trecho entre Porto Novo do Cunha, ponta do ramal de Porto Novo da
EFCB em 1871, e a cidade de Ubá foi a própria origem da E. F. Leopoldina.
O primeiro trecho foi aberto em 1874, de Porto Novo a Volta Grande,
e no ano seguinte os trilhos já chegavam a Santa Izabel (Abaíba).
Em 1879, a estrada já atingia Ubá, passando por Cataguazes, e tendo
um ramal para a cidade de Leopoldina, esta sim, a origem do nome da
ferrovia. Em Ubá, a linha do Centro se juntava com a linha
Três Rios-Caratinga. A partir daí,
com a compra de outras ferrovias e diversos prolongamentos em várias
linhas, a Leopoldina se desenvolveu até ter uma das maiores malhas
ferroviárias do País, entrando pelo Estado do Rio de Janeiro, atingindo
a então capital federal e também chegando a Vitória, no Espírito Santo.
A linha-mestra foi chamada de Linha do Centro e vinha da cidade do
Rio de Janeiro por Petrópolis, e mais tarde pela Linha Auxiliar da
EFCB, que nos anos 60 acabou por ser incorporada à rede da Leopoldina.
Em 1971, a Leopoldina desapareceu, incorporada de vez pela Refesa;
hoje mais da metade da sua antiga malha viária está desativada. A
Linha do Centro somente tem em atividade real para cargueiros basicamente
o trecho entre Cataguazes e Porto Novo, enquanto que os trens de passageiros
que por ali passavam já não existem desde os anos 70. |
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A ESTAÇÃO: A estação
de Recreio foi aberta em maio de 1876.
"Os planos para a construção da Leopoldina foram modificados,
com revisão do traçado inicialmente previsto. Os relatórios deixam
claro que o objetivo primordial da ferrovia era atender ao escoamento
da produção agrícola, não se prendendo à localização das cidades.
Como exemplo, citamos a seguinte fala: "o terreno é todo accidentado
e improdutivo, oferecendo uma construcção para a estrada de grandes
dificuldades e despezas". Prosseguindo, a autoridade argumenta que
a estrada deve favorecer diretamente as florescentes lavouras e que
os poderes públicos não devem menosprezar as dificuldades e gastos
exorbitantes, de modo a tornar "reaes os seos beneficios e reconhecidas
vantagens, para que não esmoreça o espirito de iniciativa, que mal
disperta na provincia".
Ou seja: ao apresentar projeto de alteração, que precisava de aprovação
da Assembléia, o orador chama a atenção para a necessidade de evitar
onerar a empresa construtora. Acreditamos que tais argumentos possam
ser contestados pela vertente dos interesses políticos que cercaram
a obra. De todo modo, percebe-se que a mudança de um percurso, como
foi o caso entre Conceição da Boa Vista (no projeto inicial) para
o Arraial Novo (atual Recreio), levou também em consideração as dificuldades
do trajeto inicialmente previsto. Esta argumentação se repete quando,
em 1875, é analisada outra mudança que levaria os trilhos para Vista
Alegre. Diz o relatório que a modificação, importando um afastamento
de cerca de 6 km da cidade da Leopoldina, em nada prejudica a zona
que tinha de ser precorrida e procura o natural prolongamento da estrada.
E diz mais: "cumpre attender que este facto traz lucros à lavoura,
à empreza e aos cofres publicos, e não estamos ainda em circumstancias
de fazer estradas de ferro que prefirão o commercio das cidades aos
interesses da lavoura; porquanto esta é quase que a nossa unica fonte
de rendas, e não temos e nem poderemos ter tão cedo cidades que por
sua industria possão, não digo sustentar por si caminhos de ferro,
mas obrigar estes a deixar em seo proveito, aliás incerto e fallivel,
os productos conhecidos de uma agricultura já feita e que se augmentrá
infallivelmente com as facilidades de transporte e de consumo"
(Resumo de texto de Nilza Cantoni, "Mudanças no traçado da
Estrada de Ferro da Leopoldina", 22/12/2006, site http:// arraialnovo.blogspot.com).
"Consultando os livros do Cartório, constatamos que a partir
de 1877 começam as referências ao "Arrayal Novo que se está fundando
neste Distrito". Procurando as origens deste povoado, fizemos algumas
buscas em documentos relativos à Leopoldina, que seria a origem da
atual cidade de Recreio. A autorização para construir a estrada de
ferro ligando Porto Novo do Cunha a Leopoldina veio em 1871. Três
anos depois, em outubro de 1874, foram inauguradas as estações de
Porto Novo e Volta Grande. Mais um ano e meio e, em dezembro de 1874,
inaugurava-se a estação de Providência, de onde partiriam os trilhos
para atingir Conceição da Boa Vista.
Em agosto de 1876 foi inaugurada a estação de Campo Limpo, atual Ribeiro
Junqueira. Sendo assim, os trilhos teriam cruzado o território do
atual município de Recreio entre 1874 e 1876 e não parece viável
que a Estação do Recreio tenha começado a operar em julho de 1874,
como informa o site da Prefeitura Municipal de Recreio (e outras fontes).
Para avalizar nossa opinião, além dos registros de transmissão de
propriedade consultamos os relatórios da presidência da Província
de Minas Gerais. Assim é que soubemos que no ano de 1875 foram concluídos
os 59 km que ligavam Porto Novo do Cunha a Santa Isabel, hoje Abaíba.
Pelo contrato de 3 de maio de 1875, ficou estabelecido, em seu artigo
1º, que 'do ponto onde estão concluidos os trabalhos de construcção
irá até ao Boqueirão dos Bagres, e d'hai, bifurcando-se, se estenderá,
por um lado, até a Cidade da Leopoldina, e por outro até a Villa Cataguazes,
antigo arraial de Santa Rita do Meia Pataca'.
Entendemos, portanto, que os trilhos foram assentados na região de
Recreio entre maio de 1875 e agosto de 1876" (Resumo de
texto de Nilza Cantoni, "O Arraial Novo e a Estação", 20/12/2006,
site http://arraialnovo.blogspot.com). "Outro fator a
acelerar a urbanização do então Arraial Novo foi a estrada de Ferro
Alto-Muriaé. Segundo o relatório da Presidência da Província de Minas
Gerais, de 4 de maio de 1881 o presidente dessa ferrovia, Dr. Custódio
José da Costa Cruz, informou que no dia 5 de janeiro daquele ano a
Companhia foi instalada, com o fim de executar o contrato assinado
com a Província em 11 de agosto de 1879. Trata-se do contrato para
construção de uma linha férrea entre a Estação do Recreio e o povoado
de São Francisco do Glória. Observa-se que decorreram dois anos entre
a assinatura do contrato de concessão e a organização da companhia
construtora.
A partir de então, e segundo o mesmo documento, entre janeiro e abril
de 1881 foram 'explorados e estudados 6 (seis) quilômetros da nova
estrada, entre a Estação do Recreio e o Capivara'. Parece claro que
construção da estrada só teria sido iniciada posteriormente, já que
no relatório seguinte, de 12 de dezembro de 1881, o presidente da
Província informa que aprovou os estudos sobre os primeiros 29 quilômetros
da ferrovia Alto-Muriaé. Confirmando tais informações, o relatório
da Presidência da Província, de 1 de agosto de 1882, informa que naquele
ano foram iniciados os trabalhos de construção dos 29 quilômetros
da estrada, a partir da Estação do Recreio. Acrescente-se que somente
em 1885, por ocasião da urbanização das terras da Fazenda Laranjeiras
no Arraial Novo, surgem referências sobre esta ferrovia nos livros
cartoriais de Conceição da Boa Vista" (Resumo de texto
de Nilza Cantoni, "A estrada de ferro Alto-Muriaé, 21/12/2006,
site http://arraialnovo.blogspot.com).
"Inácio Ferreira Brito não gostava que dissessem que ele era
proprietário da Fazenda das Laranjeiras, sempre alegando que esta
era propriedade de seu irmão Francisco. Contam que, na tentativa de
fixar o nome de sua propriedade - a Fazenda do Recreio, Inácio pediu
que a Estação do ramal ferroviário recebesse o nome de Recreio. Pelos
livros do Cartório de Notas de Conceição da Boa Vista, as duas propriedades
- Laranjeiras e Recreio, eram vizinhas. Mas todas as referências à
ferrovia, constantes nos livros do cartório, indicam que "deviza com
terras da Fazenda das Larangeiras, de propriedade de Ignacio Ferreira
Brito e sua mulher, Mariana Ozória de Almeida" (Resumo de texto
de Nilza Cantoni, "O nome da Estação do Recreio", 19/12/2006,
site http://arraialnovo.blogspot.com).
A estação era um entroncamento ferroviário até
2012, pois as duas linhas que por ela passavam continuavam com tráfego
de trens cargueiros da FCA. Até 1981, pelo menos, passavam
por esta estação trens mistos que a ligavam com a
cidade de Campos, RJ, via Cisneiros-Paraoquena-Campos.
No exterior da estação há painéis de azulejos
com motivos ferroviários. A estação estava, em
julho de 2007, em reforma pela Prefeitura.
"Só para você ter uma idéia, tudo
o que seja triângulo (ver croquis acima), EF Alto Muriaé, Linha
de Manhuaçu e sua conexão com a Campos-Miracema, está literalmente
abandonado pela FCA. Ainda no croquis, somente a linha da esquerda
(Cataguases) para a direita (Porto Novo) está operacional, com o trem
da bauxita. Recreio foi transformada pela FCA em oficina de locomotivas
e vagões, o que "matou" Campos. Toda a equipagem de manutenção da
via permanente tambem está locada em Recreio,
está literalmente impossível obter uma foto da estação, focando
somente o prédio" (Gutierrez L. Coelho, 01/2008).
Em 11 de abril de 2009, foi inaugurado na estação um
Museu Ferroviário, que não estava aberto quando lá
estive, numa manhã de domingo de novembro de 2012. Embora a
estação estivesse no meio do pátio cercada por
trilhos e locomotivas manobrando, além de outras casas usadas
pela FCA, o velho prédio que tantos passageiros despachou e
recebeu hoje não era mais usado pela concessionária
para nada.
Porém, o fim chegaria em 2015. As oficinas de Recreio
do Trem da Bauxita, que carregava em Barão de Camargos
o minério para a cidade de Alumínio, SP, onde
há uma usina de cimento da Votorantim, foram fechadas, pois este trem
foi extinto em 31 de julho de 2015 e levava o minério até
a estação de Barão de Angra (em Paraíba
do Sul, RJ), por linha métrica, onde era baldeado para
a linha de bitola larga da MRS, seguindo daí para São
Paulo. Com este fechamento da linha, a antiga Linha do Centro
da Leopoldina perdeu todo o seu uso e estava já abandonada.
Na estação de Recreio, em 28/6/2019, estava (de volta) funcionando um museu ferroviário criado pelos ferroviários aposentados da Leopoldina. O museu estava muito bem equipado e preservado. O prédio da estação também estava bem conservado, embora parcialmente descaracterizado. No andar de cima funcionava o Conselho Tutelar. Em frente à estação funcionava a oficina de trens da
ONG "Amigos do Trem", onde as composições estavam sendo reformadas para o trem "Rio-Minas", que deverá percorrer o trecho entre Cataguases e Três Rios (informações de 2019 por Felipe de Medeiros Tavares) em algum momento.
Até 2022, o trem não estava funcionando, exceto por raras viagens de experiência.
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1876
AO LADO: A noticia desta jornal esclarece a data da inauguraçãoi da estação: foi em 22 de maio (Gazeta de Noticias, 25/5/1876). |
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1884
AO LADO: A agência
da Estação do Recreio foi criada em 15/7/1881 e estava localizada
no município de Leopoldina. Pertencia à E. F. Leopoldina -
linha do Centro. As malas postais eram permutadas diariamente
com a administração federal - Rio de Janeiro. Seguiam pela
E. F. L. até Porto Novo do Cunha, daí, pela Central do Brasil
até Entre Rios, atual Três Rios, de onde seguiam pela mesma
ferrovia até o destino (Reprodução
e texto Marcio Protzner, 02/2009). |
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1900
AO LADO: Dinheiro falso na estação (O Estado de S. Paulo,, 23 02/1900). |
ACIMA: Pátio, estação e oficinas (em
primeiro plano) de Recreio em 1913 (Autor desconhecido).
ACIMA: Mapa do município de Recreio nos anos 1950, notando-se
a antiga vila de Conceição de Boa Vista como um de seus
bairros afastados (a sudeste). A linha do Centro vai de sul a norte
e a do Manhuaçu do centro para nordeste (Nilza Cantoni, http://arraialnovo.blogspot.com).
ACIMA: O triângulo na estação
de Recreio, visto na foto mais ao alto em diferente posição.
No desenho, o local da estação atual (à direita)
e ao centro, na parte baixa, o provável local da primeira estação.
Porto Novo do Cunha está para a direita do
desenho; Cataguazes, para a esquerda, na parte baixa. Ou seja: a linha
do centro é essa. Para a esquerda, na parte alta, Angaturama,
ou seja, a antiga linha da Alto Muriaé e depois linha de Manhuaçu
(Cortesia Nilza Cantoni, site http://arraialnovo.blogspot.com).
ACIMA: Ponto de bifurcação da linha que segue para Campos (Foto
Ricardo Quintero de Mattos, em 07/2007).
ACIMA e ABAIXO: Trens de minério com
pelo menos três locomotivas diesel da FCA passam pela linha
nas ruas da cidade de Recreio, paisagem não atípica
de várias cidades por onde a velha Leopoldina construiu suas
linhas. "Tudo isto no meio da rua, disputando espaço com pessoas,
bicicletas, motocicletas e carros, um perigo danado (e um convivio
pacífico, por mais incrível que possa parecer)" (Fotos e texto
entre aspas: Pedro Paulo Rezende, 1/11/2010).
ACIMA: Hotel Pinto, em frente à estação
de Recreio, então abandonado e lacrado (Foto Gutierrez L. Coelho, 1/11/2010).
ACIMA e ABAIXO: Os ajulejos que contam a história
da estação e da ferrovia na cidade estavam assim em
maio de 2017, desse jeito mesmo, numa praça próxima
à estação (Fotos Carlos Latuff).
ACIMA: Uma das plataformas de Recreio em 2019 (Foto Felipe Medeiros em junho de 2019)
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A estação em 1974. Foto Hugo Caramuru |
A estação em 1989. Foto Hugo Caramuru |
Painel de azulejos mostrando a construção da linha.
Foto Jorge A. Ferreira |
Painel de azulejos mostrando a própria estação.
Foto Jorge A. Ferreira |
A estação, em 07/2002. Foto Jorge Alves Ferreira |
A estação em 06/2006. Foto Marcos de Castro Lima |
Oficinas de Recreio em 06/2006. Foto Ricardo Quintero de Mattos |
A estação em janeiro de 2008. Foto Gutierrez L.
Coelho |
A estação em 1/11/2010. Foto Gutierrez L. Coelho
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Estação de Recreio em 30/09/2012. Foto Ralph M.
Giesbrecht |
A estação em 06/2019. Foto Felipe Medeiros |
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Atualização:
22.11.2022
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